O que Deus nos ensina por meio de um vírus?

 In Artigos

Vivemos um período sem precedentes para nossa geração. Nenhum de nós, nem mesmo os mais experientes, vivenciou uma pandemia e o que é sabido sobre épocas de calamidades nos chega por testemunhos históricos e experiências secundárias. Mas o surgimento do Coronavírus mudou essa realidade. A ameaça invisível transformou o modus vivendi da humanidade de maneira significativa. Atualmente, o distanciamento social se tornou a norma, pois algumas pessoas podem estar infectadas e não apresentar qualquer sintoma, enquanto em outros, os indícios são tão graves que podem levar à morte. Assim, o afastamento se tornou uma expressão de amor e cuidado, quando há apenas alguns dias, ele seria considerado manifestação de indiferença.

O vírus mexeu com nossos ídolos e jogou por terra algumas de nossas “vacas sagradas”. Isso fica claro ao considerar os efeitos da pandemia sobre três principais objetos da adoração popular: o esporte, o entretenimento e a prosperidade. O avanço do Coronavírus resultou na paralização de competições esportivas, inclusive na prorrogação dos jogos olímpicos. Não se ouve mais notícias sobre brigas de torcidas de times de futebol e nem se ouve mais discussões sobre o “time do coração”. O interesse pela preservação da vida parece ter superado a paixão de alguns torcedores. As pessoas também necessitaram suspender algumas atividades comuns de entretenimento. Não se observa ajuntamentos nos bares, não há convocações de pancadões e até as praias estão isoladas. Algumas pessoas que se aventuraram em cruzeiros, acabaram vivendo pesadelos, quando seus navios foram proibidos de atracar em portos por suspeita de contaminação de membros da tripulação ou dos passageiros. Ademais, os estragos econômicos têm arruinado a esperança de muitos em relação à prosperidade. As previsões sobre a economia mundial não são nada otimistas. Algumas pessoas já perdem empregos, empresários perdem o sono e as bolsas financeiras perdem investidores a cada segundo. De fato, vários ídolos da humanidade foram destronados pelo avanço de um vírus.

O Coronavírus se originou na China, mas ele não se restringe a fronteiras nacionais. Ao contrário, ele se adapta muito bem em qualquer país e qualquer continente. Ele também não faz acepção de pessoas e atinge tanto ricos quanto pobres e, embora os idosos estejam no grupo de risco, há casos de jovens que também tiveram a vida ceifada por ele. Até o momento, nenhum medicamento parece ser totalmente eficaz para deter os seus avanços e não ainda não há vacina contra ele.

Diante desse cenário, algumas pessoas honestamente questionam se essa pandemia é um juízo divino sobre a humanidade. Alguns até se lembram de passagens do livro do Apocalipse que descrevem pragas e doenças que ceifarão a vida de grande porcentagem da humanidade (cf. Ap 6.7-8 e 9.13-21). É claro que cada sentença de morte no universo aponta para o dia no qual todo ser humano comparecerá diante do Supremo Juiz para a sentença final, mas esse vírus ainda não é a revelação do Juízo Final. Em certo sentido, o surgimento desse vírus e sua letalidade é um sinal de Deus de que há algo errado com o mundo em que vivemos. Esse é um mundo caído, em rebelião contra Deus, e as consequências da queda estão sobre todos seres viventes. Todavia, esse “inimigo invisível” também pode ser um instrumento pedagógico de Deus para os seres humanos, especialmente aqueles que têm ouvidos atentos para atender a essas instruções.

Quais poderiam ser, portanto, os ensinamentos do Senhor por meio de um vírus tão amedrontador? Há, no mínimo, quatro lições que, cuidadosa e reverentemente, sugerimos serem consideradas a esse respeito. Procurarei elaborar resumidamente cada uma delas logo abaixo.

  1. A fragilidade da vida humana. O Coronavírus é considerado de baixa letalidade, mas já provocou muitas mortes nos cinco continentes. Diante desse desafio a humanidade tem percebido como a vida humana é frágil e como os riscos de morte são numerosos nesse universo. Há poucos dias muitos viviam como se fossem intocáveis e agora se refugiam em casa, amedrontados pelos efeitos da pandemia.

Mas Deus sempre ensinou na Bíblia que a vida humana é frágil. Há um texto na epístola de Tiago que trata claramente sobre isso. Nele o apóstolo pergunta e responde: “Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa” (Tg 4.14). A metáfora da neblina comunica com clareza a realidade de que a vida humana é frágil e nos últimos dias, o Coronavírus parece instrumental para nos lembrar dessa realidade.

  1. A falibilidade dos planejamentos humanos. Ninguém conseguiu, de maneira eficaz, prever o surgimento, avanço e efeitos devastadores do Coronavírus. Tudo aconteceu tão rápido que parece ter tomado a humanidade de surpresa. O pior é que hoje, vivendo sob os efeitos da pandemia, também não conseguimos planejar o futuro, pois nem sabemos ao certo como viver o presente. Não se sabe ao certo quando tudo acabará e quando tudo voltará ao normal. O problema é que o normal nunca mais será aquele que conhecíamos, pois, a pandemia já mudou muitas coisas.

As limitações humanas convergem para a falibilidade de seus projetos. Nenhuma previsão é infalível e nenhum projeto cobre todas as variáveis. De fato, nossos planejamentos não são garantia de sucesso pleno e Deus nos lembra isso por meio do surgimento desse vírus.

  1. A importância dos relacionamentos. No estado de isolamento social, sem poder correr de um lado para o outro, sem poder se distrair com a sensação de estar muito atarefado com outras coisas, várias pessoas tiveram que repensar o que, de fato, é importante nessa vida. O medo de perder entes queridos, não poder realizar sequer um ofício fúnebre para alguns que foram vitimados pela Covid 19, fez com que alguns repensassem seus relacionamentos. Para as famílias que gozam de bom relacionamento, o isolamento social permite que elas tenham mais tempo para realizarem atividades afins. No entanto, para aqueles cujos relacionamentos eram fragilizados, o isolamento mais parece um inferno. Nesses momentos, a avaliação quanto ao cultivo de relacionamentos profundos e benéficos é sempre bem-vinda!
  1. A necessidade de uma fé genuína. Períodos e aflições acabam testando nossa fé. Ao escrever sobre isso, o apóstolo Pedro exortou seus leitores: “Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo” (1Pedro 1.6-7). É interessante que o apóstolo compare a fé ao ouro, um dos metais mais valiosos e duradouros desde a antiguidade. Porém, haverá um dia no qual o valor do ouro será relativizado, mas a fé genuína sempre será de grande valor aos olhos de Deus.

A verdadeira fé conecta o crente ao Senhor Jesus, o qual é nossa esperança (cf. 1Tm 1.1) e, por isso, mesmo em meio às aflições de uma pandemia, o crente pode caminhar esperançoso. Aquele que possui uma fé genuína não olha para o sofrimento como algo que o define, mas como um agente que refina sua fé e confiança no Senhor.

Enfim, o fato de vivermos dias difíceis não precisa ser desesperador, mas pode ser pedagógico para todos nós. Deus, em sua soberania e providência, não foi “pego de surpresa” pelo surgimento e avanço desse vírus. Na verdade, ele usa até esse inimigo invisível para ensinar algumas lições à humanidade contemporânea. Quem tem ouvidos para ouvir, deveria estar atento.

Rev. Valdeci da Silva Santos – SNAP

Recent Posts