POSSÍVEIS CAUSAS DE DEPRESSÃO ENTRE PASTORES

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Depressão é um assunto doloroso e é difícil “colocar o dedo” naquilo que poderia ser a causa e origem dessa ferida. Ainda que, nesse mundo caído, toda pessoa experimente altos e baixos, a pessoa deprimida convive com abatimentos que afetam significativamente suas funções diárias, tanto pela intensidade quanto pela duração do sofrimento. A depressão frequentemente afeta o sono (aumento ou diminuição), diminui ou retira completamente o interesse pelas atividades normais da vida (hábitos alimentares, sexo, trabalho etc.), gera culpa (sentimento de ser indigno, não possuir qualquer valor, ser incapaz etc.) e leva à exaustão física. Certamente tudo isso poder fazer com que a vida da pessoa deprimida se torne um intenso sofrimento, tanto para ela quanto para as pessoas ao seu redor.

No caso dessa pessoa ser um pastor, a depressão sempre será acompanhada pela busca teológica por uma causa: por que Deus permite isso comigo? Será que sou, de fato, crente? O que Deus quer me ensinar com tudo isso? Até quando, Senhor? Perguntas como essas acabam sendo acompanhadas pelas lágrimas de quem experimenta a dor, mas não consegue identificar sua origem e o seu tratamento.

Nos últimos anos, alguns conselheiros bíblicos e pesquisadores cristãos que trabalham diretamente com ministros do Evangelho têm sugerido vários tópicos que podem originar ou contribuir substancialmente para a depressão entre pastores. Cabe lembrar que os tópicos sugeridos a seguir dizem respeito a “causas possíveis”, sendo que a experiência de cada indivíduo deve ser considerada cuidadosamente.

Batalha espiritual – O inimigo não deseja que os servos do Senhor sejam eficientes no ministério. Satanás certamente fará o que puder para ferir o pastor a fim de que as ovelhas se dispersem. Por essa razão, o leão que ruge procurando alguém para devorar (cf. 1Pe 5.8) parece ter uma predileção pelos ministros do Evangelho. Na verdade, ministério implica luta e essa luta possui contornos espirituais que não podem ser ignorados. Os dardos inflamados do maligno atingem aqueles que descuidadamente não se revestem de toda armadura de Deus (cf. Ef 6.10-20).

Condição física – Embora a depressão possa ser causada por inúmeros fatores, não se pode ignorar a natureza psicossomática do ser humano e as debilidades do corpo acabam afetando a alma. Por exemplo, os efeitos colaterais de alguns medicamentos podem resultar em um quadro depressivo no paciente. Também, algumas pessoas com diabetes, senilidade, Parkinson e outras enfermidades são mais tendentes a desenvolverem um quadro depressivo. Até mesmo o sedentarismo e a obesidade podem contribuir nesse sentido. Por isso, o cuidado com o corpo deve ser sempre exercido.

Expectativas irreais – As expectativas e demandas da igreja local sobre o pastor são sobre-humanas. Ele precisa estar sempre disponível, se submeter a receber pouco, nunca desagradar alguém, pregar sempre o melhor sermão, fazer o trabalho de zelador, office boy, secretário etc. Se alguém fica desapontado com ele, logo receberá o peso da ira e das críticas daquela pessoa ou daqueles que estão próximos a ela. Porém, o próprio pastor alimenta uma expectativa irreal acerca de si mesmo: nunca fracassar, não ficar enfermo nem desanimado, conseguir fazer todas as coisas dentro do tempo que possui etc.

Os efeitos maléficos das críticas – No passado, as críticas vinham sempre “envelopadas” por meio de uma carta, e-mail, telefonema ou uma conversa face-a-face. Nos dias atuais, porém, os críticos possuem a plataforma abrangente dos blogs, Facebook, Twitter e outras mídias sociais tornando pública suas críticas, mas, muitas vezes, escondendo suas identidades. Um dos problemas com a crítica é que nem sempre ela corresponde à realidade, mas geralmente vem mais forte e intensa do que foi a ofensa. Isso realmente abate o ministro.

Problemas conjugais e domésticos – Quando a fonte da nossa angústia está tão perto do coração, como no caso do casamento ou dos filhos, a dor se torna insuportável. O mesmo acontece com o pastor. A agravante no caso do pastor é que geralmente ele negligencia sua família em prol do cuidado com a igreja. Por isso, enquanto ele enfrenta problemas domésticos, ainda trava, no seu íntimo, um intenso sentimento de culpa e responsabilidade pessoal. O peso de todas essas coisas pode esmagá-lo.

Os apertos financeiros – No geral, pastor vive com muito pouco! Alguns irmãos parecem confundir vida de santidade e humildade com pobreza financeira e sempre oferecem um salário baixo para altas demandas. O pastor certamente é alguém muito abençoado, pois o cuidado de Deus se faz presente na vida dele através de vários presentes que recebe de uns poucos irmãos. Porém, ninguém consegue montar um orçamento mensal contando com os presentes que poderão vir ou não. Assim, enquanto o ganho do pastor é apertado, suas despesas (inclusive em prol do pastorado) parecem não conhecer o significado da palavra limite. Além de frustração, isso também gera desânimo.

Os problemas da agenda – Cuidar de pessoas demanda tempo e parece que o pastor dedicado nunca tem tempo para si ou para sua família. Com isso, ele acaba facilmente negligenciando o tempo de descanso e atividades físicas. Há alguns pastores que desconhecem o significado do termo “férias regulares”. Essa quebra de observância do mandamento que requer um descanso, cobrará, com o tempo, um preço alto da saúde física, emocional e mental do pastor. Nesse sentido, é interessante observar que, dentre as coisas que Deus disse a Elias em seu desânimo, as primeiras foram para que ele comesse e descansasse (cf. 1Re 19).

Os problemas da comparação – Isso começa desde o período do seminário, ou seja, a formação do pastor. Naquele ambiente os alunos já aprendem a comparar quem prega melhor, quem recebeu o convite da igreja maior e quem desfruta de maior popularidade nas mídias sociais. Esse jogo de comparação persegue o ministro no pastorado, mas o pior é que ele não será mais  o único a fazer a comparação, mas os membros de sua igreja também o farão. Sempre haverá um pastor mais bem-sucedido do que outro e essa dinâmica da comparação é doentia.

A solidão. Toda posição de liderança é solitária. No caso do pastorado, essa solidão parece ser mais intensa, pois seus colegas estão sempre ocupados no cuidado com suas próprias ovelhas. Além do mais, o pastor geralmente não se sente seguro em compartilhar a dor do seu coração com outros, pois o julgamento nem sempre será gracioso. Com isso, ele se fecha e internaliza seus problemas sem conseguir processá-los corretamente. No período bíblico, quando Elias estava desanimado e abatido, ele reclamou para Deus que havia ficado só (cf. 1Re 19.10). Embora a sua perspectiva não correspondesse à verdade, o fato é que o sentimento de solidão contribuía com o sofrimento daquele servo de Deus.

A verdade é que depressão e abatimento não fazem acepção de pessoas e os pastores não se encontram imunes a esses males. As causas para tais problemas podem ser variadas, mas é importante não ignorar os tópicos mencionados acima, pois cada um deles possui o potencial para abater e desanimar até o mais santo ministro. No mais, a alegria que temos é que a despeito das dificuldades encontradas no ministério, as misericórdias do Senhor sempre se renovam sobre os seus filhos (cf. Lm 3.22).

Rev. Valdeci da Silva  Santos – SNAP

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