O Interesse Cristão pela Política
O homem é uma criatura política! Ele é um ser social, criado à imagem do Deus relacional, e, por isso, necessita viver em sociedade. O convívio social implica organização e governo e tudo isso demanda o exercício político. Parte dessa atividade incluem os interesses, as discussões e as seleções políticas de cada um.
Há cristãos que erroneamente acreditam que “assuntos políticos” não devem fazer parte da esfera religiosa, pois o único interesse do crente deveria ser no mundo vindouro. No entanto, as Escrituras ensinam que o discípulo de Cristo é cidadão de dois mundos, o terreno e o celestial, e, portanto, como expressão do seu temor a Deus ele deve obedecer às autoridades terrenas, orar pelos governantes e envidar esforços para que a justiça seja promovida na terra (cf. Rm 13.1s e 1Tm 2.1-2). Dessa maneira, a esfera política não é antagônica à práxis cristã e nem é inimiga da fé!
A diferença entre o crente e o não crente nesse assunto é que o interesse político do cristão está fundamentado na sua compreensão da mensagem do evangelho. Nesse sentido, é importante lembrar que o evangelho proclama a soberania de Deus sobre todas as coisas e sobre todas as pessoas. Deus é soberano inclusive sobre aqueles que não creem nele, pois “o coração do rei está nas mãos do Senhor” (Pv 21.1) e o Senhor é o Rei dos reis (Ap 17.14).
Também, a cosmovisão evangélica abrange todas as áreas da vida humana. A mensagem do evangelho não limita a ação cristã à proclamação, mas a estende à prática das boas obras e ao cuidado com o próximo. Isso foi deixado claro pelo exemplo de Jesus e pelo ensinamento dos apóstolos (cf. Mt 10.8, Gl 6.10). Assim, a política em benefício ao próximo também é uma preocupação do evangelho.
Além do mais, o evangelho conclama os cristãos a serem bons cidadãos do mundo. Nesse sentido, Agostinho de Hipona pregava que os crentes são cidadãos tanto da “Cidade de Deus” quanto da “Cidade dos homens”. E o mesmo apóstolo que pregava o mundo vindouro, também apelou para sua cidadania terrena (cf. Atos 16.37 e 22.25).
Por último, os resultados da política acabam afetando tanto a maneira como os crentes praticam como proclamam o evangelho. Em um contexto ímpio, a prática da fé cristã será mais dificultada, embora não impossível! Nesse mesmo contexto, a liberdade da proclamação do evangelho pode ser cerceada! Mas nada disso deveria alarmar os cristãos, pois o cristianismo do primeiro século floresceu em um contexto antagônico à fé cristã, ou seja, o Império Romano.
Tendo considerado esses quatro princípios acerca do interesse político do cristão, há algumas implicações para aqueles que nessas eleições desejam manter consciência pura e participação cidadã adequada. O que se apresenta aqui são apenas destaques, mas a lista sempre poderá ser ampliada.
- Não torne nenhum candidato em “salvador da pátria”! A esperança cristã não deve ser colocada em homens nem em projetos, por mais mirabolantes que eles sejam. O salmista já exortava: “Não confieis em príncipes, nem nos filhos dos homens, em quem não há salvação” (Sl 146.3). Nossa esperança só não será frustrada quando alicerçada no Senhor.
- Não se esqueça que o Soberano Deus pode permitir que o candidato eleito seja instrumento de sua misericórdia ou de seu juízo sobre nossa nação. Há inúmeras maneiras como nossa sociedade ofende a santidade de Deus e não podemos imaginar que essas coisas passam desapercebidas aos olhos daquele que é o Juiz de toda a terra (Gn 18.25)!
- Não pense que por meio de promessas de campanha você, de fato, conhece o seu candidato. Lembre-se que o que se diz nesses momentos tem o propósito de “ganhar a simpatia das pessoas” e não de revelar as verdadeiras motivações do seu coração. O melhor a fazer nesses momentos é investigar o histórico político de cada candidato para que a escolha seja realizada com cautela.
- Lembre-se que nenhum candidato governa sozinho. Todos eles fazem alianças com outros políticos e enquanto se debate sobre os candidatos à presidência do país, outros aproveitadores acabam se perpetuando no poder porque foram ignorados na preocupação nacional. Por exemplo, você sabe em quem votará para senador, deputado federal ou deputado estadual?
- Não se encante com algum candidato apenas porque ele professa ser cristão. O próprio Jesus afirmou que muitos promulgam serem discípulos dele, mas não o são de fato (cf. Mt 7.15-19). O crente é conhecido por seus frutos. Além do mais, alguns podem até ser bons cristãos, mas incompetentes para o exercício do cargo político e, ao final, isso pode resultar em vergonha ao evangelho. A história política recente do nosso país revela muitas bancadas que se chamavam cristãs que se revelaram a serviço da ganância pessoal e da injustiça demoníaca.
- Defenda suas convicções políticas, mas não ofenda o seu próximo e nem tente fazer proselitismo! Provavelmente você encontrará muitos com preferências contrárias as suas. Suas convicções não dão a você o direito de atacar, zombar ou intimidar seu próximo, especialmente o seu irmão em Cristo Jesus.
- Lembre-se que sua maior responsabilidade nesse mundo é proclamar e vivenciar as boas novas do evangelho para que as pessoas ao seu redor se rendam ao Rei Jesus Cristo e assim, se submetam ao governo dele sobre suas vidas. Essa foi a razão pela qual você foi salvo e esse deveria ser o compromisso de todo crente quanto a melhor maneira de usar sua influência nesse mundo.
Dito isso, continuemos a orar pelo nosso país e a exercer nossa cidadania terrestre. O voto não é apenas uma oportunidade, mas um dever de todos nós!
Rev. Valdeci da Silva Santos – SNAP