PRINCÍPIOS BÍBLICOS SOBRE DÍZIMOS, OFERTAS E CONTRIBUIÇÕES CRISTÃS

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A entrega de ofertas e contribuições financeiras é uma prática comum entre as igrejas cristãs ao
longo dos anos. Todavia, essa prática tem sido altamente questionada por alguns. Esse questionamento
deve-se, em grande parte, aos exemplos de maus usos, abusos e escândalos cristãos quanto à aplicação
financeira. Outra razão para essa atitude talvez seja o desconhecimento de alguns quanto aos princípios
bíblicos sobre a contribuição cristã.
O propósito desse artigo é refletir acerca de alguns princípios bíblicos sobre as ofertas e
contribuições dos cristãos encontrados, especialmente, no Novo Testamento. Ao fazê-lo, porém, partimos
do pressuposto de que o reino de Deus não se edifica com dinheiro, mas com pessoas comprometidas
com o Rei do Reino, Jesus. Dinheiro não é o assunto mais importante da vida cristã. Todavia, Jesus
deixou claro que a maneira como lidamos com esse assunto determina quanta responsabilidade podemos
receber em questões mais importantes (cf. Lc 16.10-12). O cristão amadurecido não se deixará escravizar
pela avareza e o apego ao dinheiro a ponto de ser mesquinho em seu compromisso com a igreja do
Senhor. Antes de identificar tais princípios, porém, devemos observar alguns textos das Escrituras.

Malaquias 3.10 – “Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha casa; e provai-
me nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós bênção sem
medida”;

Lucas 8.1-3 – “Aconteceu, depois disto, que andava Jesus de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, pregando e
anunciando o evangelho do reino de Deus, e os doze iam com ele, e também algumas mulheres que haviam sido
curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; e
Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Suzana e muitas outras, as quais lhe prestavam assistência com os
seus bens”;

Lucas 11.42 – “Mas ai de vós, fariseus! Porque dais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as hortaliças e
desprezais a justiça e o amor de Deus; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas”;

Atos 4.34-35 – “Pois nenhum necessitado havia entre eles, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendendo-
as, traziam os valores correspondentes e depositavam aos pés dos apóstolos; então, se distribuía a qualquer um à
medida que alguém tinha necessidade”;

1Coríntios 16.2 – “No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua
prosperidade, e vá juntando, para que se não façam coletas quando eu for”;

2Coríntios 8.1-5 – “Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus concedida às igrejas da Macedônia;
porque, no meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles
superabundou em grande riqueza da sua generosidade. Porque eles, testemunho eu, na medida de suas posses e
mesmo acima delas, se mostraram voluntários, pedindo-nos, com muitos rogos, a graça de participarem da
assistência aos santos. E não somente fizeram como nós esperávamos, mas também deram-se a si mesmos primeiro
ao Senhor, depois a nós, pela vontade de Deus”;

2Coríntios 9.7-9 – “Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade;
porque Deus ama a quem dá com alegria. Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre,
em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra, como está escrito: Distribuiu, deu aos pobres, a sua
justiça permanece para sempre”.

A partir da leitura dos textos bíblicos relacionados acima podemos deduzir vários princípios. Abaixo
encontramos uma seleção de treze desses princípios.
1. A Bíblia ensina que o ministério de Jesus foi mantido pela contribuição de pessoas piedosas. O
evangelista Lucas menciona os nomes de algumas mulheres que lhe prestavam assistência com os
seus bens, mas afirma que existiram “muitas outras” (Lc 8.1-3). Além do mais, o fato de haver uma
bolsa de dinheiro no colegiado apostólico indica que Jesus e os apóstolos recebiam alguma renda
para a sua manutenção (cf. Jo 12.6 e 13.29).

2. A Bíblia ensina que Jesus aprova contribuições financeiras quando elas são feitas com a
motivação correta. Na história da viúva pobre (Mc 12.41-44 e Lc 21.1-4), aprendemos que Deus
não despreza a oferta humilde, pois Jesus aprovou a oferta da viúva pobre. Por implicação podemos
ainda afirmar que a contribuição financeira é parte do dever dos discípulos de Jesus, pois ele aprovou
a oferta daquela mulher. Assim, não existe pessoa na igreja que esteja desqualificada para contribuir.
É importante, portanto, avaliarmos nossa motivação para a contribuição, se estamos ofertando
apenas daquilo que sobra ou daquilo que nos é precioso.
3. A Bíblia ensina que Jesus não condenou a prática do dízimo, mas apenas os abusos provenientes
da mesma. Em Lucas 11.42 Jesus censurou os fariseus por entregarem o “dízimo da hortelã, da
arruda e de todas as hortaliças e desprezais a justiça e o amor de Deus”. Naquela ocasião, Jesus não
estava condenando a prática do dízimo, mas o fato dos fariseus julgarem que o dízimo substitui a
base real do relacionamento com Deus. Em outra ocasião, Jesus contou uma parábola de um homem
que pensou ser justificado por que dava o dízimo de tudo o que possuía (cf. Lc 18.9-14). O princípio
naqueles textos é que sem amor a Deus, a prática do dízimo pode degenerar-se em sentimento de
auto-suficiência e justiça própria.
4. A Bíblia ensina que a contribuição para atender aos necessitados é uma extensão da comunhão
cristã. Essa lição é especialmente demonstrada no registro da história da igreja primitiva em Atos
dos apóstolos (At 4.34-35). O escritor da carta aos Hebreus elogia o procedimento daqueles que, na
identificação com os que eram perseguidos, aceitaram com alegria o espólio de seus bens (Hb
10.34). Assim, a comunhão cristã não é apenas espiritual, mas também prática e material em sua
natureza.
5. A Bíblia ensina que a contribuição é parte integrante da adoração cristã. O texto de 1Co 16.1-4
inclusive ensina que essa contribuição deve ser feita sistematicamente, pois Paulo recomenda que
seja “no primeiro dia da semana”. O primeiro dia da semana foi o dia em que o Senhor Jesus
ressuscitou dos mortos e era o dia em que a igreja primitiva se reunia para os seus cultos (cf. Mt 28.1
e Atos 20.7). Paulo ensinou que a oferta deveria ser realizada sistematicamente e como um ato de
adoração, pois ela era incluída na liturgia da igreja primitiva.
6. A Bíblia ensina que a contribuição cristã deve obedecer o princípio da fidelidade e da
proporcionalidade. Em sua exortação à igreja de Corinto, Paulo diz: “. . . cada um de vós ponha de
parte, em casa, conforme a sua prosperidade” (1Co 16.2). Em outra ocasião ele ensinou à mesma
igreja que “se há boa vontade, será aceita conforme o que o homem tem e não segundo o que ele não
tem” (2Co 8.12). Dessa forma podemos deduzir que Deus nunca exige que seus filhos entreguem o
que não têm. A contribuição deve ser proporcional àquilo que as pessoas possuem. Cabe lembrar que
o princípio do dízimo também atende perfeitamente o conceito de proporcionalidade.
7. A Bíblia ensina que a contribuição cristã deve ser devidamente planejada. Em 1Co 16.2 Paulo
ensinou que cada pessoa deveria separar em casa a contribuição a ser trazida para a igreja. O mesmo
princípio é enfatizado em 2Co 9.7, onde o apóstolo exorta que cada cristão “contribua segundo
propôs no coração”. Frequentemente esses versículos são usados para defender a voluntariedade da
contribuição. Todavia, eles também ensinam a importância do cristão planejar antecipadamente a sua
contribuição, em vez de contribuir apenas aleatoriamente ou quando suas emoções o levarem a fazê-
lo.
8. A Bíblia ensina que os primeiros cristãos interpretaram a contribuição como um privilégio e um
motivo de grande alegria. Ao descrever a atitude dos macedônios para com a contribuição, Paulo
afirma que eles foram generosos e pediram, com muitos rogos, a graça de participar da assistência
aos santos (2Co 8.1-4). Além do mais, Paulo disse que os macedônios contribuíram a despeito de
uma situação de “profunda pobreza” e que o fizeram “acima de suas posses”. Dessa forma, o padrão
de contribuição da igreja do Novo Testamento revela grande regozijo ao fazê-lo.
9. A Bíblia ensina que cada cristão tem o privilégio de participar das contribuições na igreja. Em
sua exortação sobre a contribuição dirigida aos Coríntios, Paulo indica que cada cristão deveria fazê-
lo (1Co 16.2). Dessa forma, esse não é um privilégio de alguns, mas todos podem participar. A
Escritura apresenta algumas atividades da vida cristã como sendo matéria de mera convicção

pessoal. A contribuição cristã, todavia, é uma exortação para todos os membros da igreja. 1. A
Bíblia ensina que a contribuição cristã deve ser caracterizada pela generosidade. O apóstolo
Paulo descreve a oferta cristã como “pronta expressão da generosidade e não de avareza” (2Co 9.5).
Em outra ocasião, ele afirma que a contribuição dos cristãos de Corinto os enriquecia em tudo, para
toda generosidade (2Co 9.11). Nesse sentido, a contribuição cristã não se limita ao mínimo
estabelecido pelo dízimo, mas pode, inclusive, excedê-lo.
10. A Bíblia ensina que a contribuição cristã deve ser voluntária e livre de qualquer coerção. As
ofertas cristãs não devem ser constrangidas pela tristeza ou a obrigação, mas realizadas com alegria
(2Co 9.7). A espontaneidade na contribuição deve ser fruto da maturidade e compreensão cristã
sobre a importância dessa prática. Portanto, o verdadeiro cristão não precisa ser fustigado para
contribuir.
11. A Bíblia ensina que a liberalidade cristã na contribuição é fruto de uma consagração pessoal a
Deus. A explicação de Paulo para a espontaneidade dos cristãos macedônios em contribuir
sacrificialmente foi que antes eles “deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor” (2Co 8.5). Em última
instância, somente aquele que já entregou o seu coração à Cristo não terá dificuldade de contribuir
para com a obra do Mestre. Também, somente o verdadeiro convertido se submete totalmente aos
princípios da Palavra de Deus. Para aquele que já se rendeu a Cristo, a contribuição é um privilégio a
ser celebrado.

Certamente os princípios aqui relacionados não realizarão uma transformação automática nas
pessoas. Cristãos que não contribuem financeiramente não se tornarão fervorosos ofertantes
simplesmente por lerem uma relação de textos bíblicos e uma série de princípios sobre o dever em fazê-
lo. Mas se amamos realmente ao Senhor, teremos prazer em obedecer aos princípios de sua Palavra e
procuraremos moldar nosso viver cristão à luz da vontade revelada do Pai.
Alguns ainda podem argumentar que, uma vez que a contribuição deve ser voluntária e com
alegria, todo aquele que não “sentir alegria” em ofertar encontra-se desobrigado de fazê-lo. O bom senso,
porém, indica que não devemos depender exclusivamente de nossos sentimentos, especialmente quando
eles nos impedem de obedecer a nossa confissão (2Co 9.13). Como acontece em outras situações da vida,
nossos atos não devem depender apenas das motivações sentimentais, mas também do senso de dever. É
bem verdade que quando o amor e o bom ânimo estão envolvidos, a ação encontra sua realização plena
resultando em muitas graças a Deus (2Co 9.12). O senso do dever, porém, pode proceder do próprio
Deus que efetua em seus filhos tanto o querer quanto o realizar. Em algumas situações, é esse mesmo
senso que permite o cumprimento de algumas responsabilidades, sejam elas profissionais, paternais e até
conjugais. O cristão zelará por praticar o que é correto, mesmo quando não se encontra emocionalmente
motivado a fazê-lo.

Rev. Valdeci da Silva Santos

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