Prioridades no Ministério Pastoral

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No trabalho pastoral, sou constantemente confrontado com a necessidade de decidir entre o que é urgente e o que é importante. Seria mais fácil se toda demanda pastoral fosse uma combinação de ambos. Mas, isso nem sempre acontece. Ainda que a disposição de atender as necessidades ministeriais seja genuína, o tempo, a saúde e outros recursos, são limitados. O que fazer então? Qual princípio seguir na tomada de decisões para as atividades diárias? Como planejar o trabalho da semana garantindo que as tarefas importantes não serão sacrificadas no altar daquelas que reivindicam ser urgentes?

Além das demandas ministeriais, a indecisão do pastor é agravada pela necessidade de navegar no campo das expectativas: suas e do rebanho. Nesse sentido, todo obreiro é comumente assombrado por duas perguntas: “O que eu devo fazer?”, e, “o que as pessoas gostariam que eu fizesse?”. Novamente aqui, ele precisará de um padrão para orientar sua decisão. Enquanto não o encontra, o pastor corre o risco de não ter alegria nas realizações ministeriais e fazer a obra do Senhor gemendo (Hb 13.17).

Diante das tensões causadas pelas demandas e expectativas ministeriais, geralmente concluímos que os culpados são os outros. Com isso facilmente localizamos a causa do problema “fora de nós”. No entanto, se analisarmos com sinceridade, é possível que o locus do problema esteja “dentro de nós”. Isso se torna mais claro com uma declaração de Eugene Peterson no livro O pastor contemplativo. Naquela obra ele diz:

Sou ocupado porque sou ocioso. Eu, indolentemente permito que outros decidam o que farei ao invés de resolutamente decidir por mim mesmo. Eu permito que pessoas que não compreendem o trabalho do pastor preencham a agenda do meu trabalho diário porque eu sou muito desleixado para escrever por mim mesmo.[1]

As palavras de Peterson nos atingem como pedradas certeiras, mas também revelam que muitas vezes a crise da pressão ministerial se deve ao fato do pastor não estabelecer prioridades pessoais.

Na seleção das principais atividades ministeriais, é importante concentrar naquelas que estão diretamente conectadas ao cuidado de almas sob nossa responsabilidade na igreja local. Nesse sentido, o cuidado com membros de outras igrejas, ainda que importante, não deveria ocupar tanto nosso tempo, pois esses se encontram debaixo do pastoreio de outra pessoa. Também, devemos deixar de lado algumas atividades que promovem mais distrações do que edificação espiritual, tais como: supervisionar construções de templos ou salas de escola dominical, interações e debates nas mídias sociais, etc. Comparadas ao pastoreio das almas que nos foram encarregadas, essas outras atividades acabam tempo importância secundária.

É possível, pelo estudo das Escrituras, selecionar dez prioridades para o pastorado, que podem ser praticadas em qualquer contexto. Todas elas, correspondem à ordem bíblica de pastorear o rebanho de Deus entre nós (1Pd 4.2) e zelar da alma dos crentes como alguém que dará conta disso (Hb 13.17). Essas prioridades são resumidamente apresentadas a seguir.

  1. Ore pelo rebanho. Um pastor deve ser um intercessor, apresentando as necessidades de sua igreja diante de Deus e se tornando um modelo na vida de oração, tanto pública, quanto particular. É importante observar a ordem estabelecida pelos apóstolos quando apresentaram a justificativa para a eleição de diáconos na igreja primitiva. Após explicaram o que os diáconos fariam, eles disseram: “. . . e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra” (At 6.4). Surpreendentemente para alguns, a dedicação à oração antecedeu a pregação. Assim, a principal tarefa do pastor é interceder pelo seu rebanho e, como Samuel, ele deve dizer: “longe de mim que eu peque contra o Senhor, deixando de orar por vós” (1Sa 12.23).
  2. Pregue a Palavra(1Tm 4.2). A pregação fiel das Escrituras deve ser uma preocupação a ocupar grande parte da agenda cronológica de um pastor. A Bíblia é o cajado por meio do qual ele apascenta o rebanho de Deus. Todavia, é necessário esclarecer que essa tarefa implica em que o pregador seja um “servo do texto sagrado”. Há muitos pastores que pregam suas ideias e não as Escrituras. É preciso deixar claro que a verdadeira pregação inclui a exposição (o que o texto significa) e a aplicação (como a mensagem do texto se aplica a nossa realidade) do texto sagrado. Para que isso seja realizado corretamente, o pastor deve ser um estudioso das Escrituras e das pessoas sob sua responsabilidade. Sacrificar essa prioridade resulta em danosas consequências tanto para o pastor quando para o rebanho.
  3. Capacite sua liderança. No conselho pastoral de Paulo a Timóteo continua sendo relevante: “o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros” (2Tm 2.2). Logo, o mandato bíblico para os pastores é que eles multipliquem seus ministérios através do investimento na liderança. Muitos ministros perdem oportunidades e colhem os amargos frutos dos conflitos por ignorarem essa prioridade. Todavia, o sábio pastor investirá tanto naqueles que presentemente lideram com ele, como também procurará desenvolver líderes para o futuro. Além disso ser um princípio ensinado por Paulo, o mesmo foi exemplificado por Jesus.
  4. Estabeleça um modelo de vida cristã a ser seguido. O pastor é um exemplo para o seu rebanho e, portanto, deve estar sempre ciente de que os outros estão olhando para ele como um modelo. Paulo escreveu a seguinte exortação ao jovem Tito: “Torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras” (Tt 2.7). Todavia, embora o pastor deva modelar um comportamento correto, ele também deve modelar a humildade e o arrependimento, reconhecendo suas falhas e o fato de que também é um pecador. Com isso ele ensinará seu povo a aplicar a mensagem do evangelho à vida pessoal.
  5. Visite os enfermos. A dinâmica e correria da vida pastoral nem sempre permite visitar todos os membros da congregação, especialmente quando, pela graça de Deus, o rebanho continua crescendo sistematicamente. Além do mais, alguns membros de igrejas urbanas possuem agendas tão intensas que dispensam as visitas pastorais. No entanto, os pastores devem visitar os doentes e necessitados de cuidado e encorajamento. Jesus deixou claro que a atenção aos enfermos é parte integral da comunhão com ele (Mt 25.36-44). As visitas aos enfermos são ocasiões especiais para lembrá-los das preciosas promessas de Deus, orar com eles e por eles.
  6. Conforte os enlutados. O cuidado com os enlutados faz parte da obediência ao princípio de chorar “com os que choram” (Rm 12.15). Por isso, em face da morte, um pastor deve lamentar com aqueles cujo coração foram despedaçados pela perda de um ente querido. Nesse processo ele deve se lembrar de apresentar a eles a bendita esperança e encorajamento do evangelho. Caso tenha oportunidade de pregar em algum funeral, sua mensagem não consistirá de uma eulogia ao morto, mas a apresentação clara das consolações que temos no Cristo.
  7. Dê atenção especial às viúvas. Este ensino bíblico, muito negligenciado nos dias atuais, exige que os pastores sejam responsáveis ​​pelas viúvas da igreja e encontrem maneiras criativas de exercer o cuidado para com elas. Paulo escreveu ao jovem pastor Timóteo: “Honra as viúvas verdadeiramente viúvas” (1Ti 5.3) e o mesmo se aplica aos pastores atuais. Além do mais, em toda a história bíblica Deus se revela como Aquele que “guarda o peregrino, ampara o órfão e a viúva” (Sl 146.9). Portanto, o pastor deve priorizar o cuidado dessas mulheres especiais.
  8. Confronte o pecado. Essa talvez seja uma das mais difíceis tarefas do ministro. Contudo, se o pecado é comparado ao fermento nas Escrituras, negligenciá-lo apenas piora a situação, pois toda a massa será contaminada por ele (1Co 5.16). Por essa razão, os pastores precisam confrontar o pecado e conduzir a igreja no exercício da disciplina eclesiástica, sempre esperando que isso resulte na glória de Deus, no arrependimento e restauração do pecador, bem como na edificação de todo o rebanho.
  9. Encoraje os fracos. Na caminhada cristã, nem todos avançam na mesma velocidade. Alguns parecem mais fracos e demorados que outros e nem por isso devem ser desprezados. Em termos de santificação, devemos sempre lembrar que a direção é muito mais importante do que a velocidade. Quem corre para o pecado, se precipita na destruição, mas aquele que anda firmemente em direção ao Senhor, alcançará plena transformação no retorno de Cristo. Assim, embora possamos ser tentados a dispensar facilmente os fracos e alguns que demoram manifestar mudanças, Deus nos chama a exercer paciência e perseverança no cuidado e encorajamento aos enfraquecidos por inúmeras circunstâncias.
  10. Pratique e hospitalidade. Ser hospitaleiro é uma exigência bíblica para o líder fiel (1Tm 3.2). Todavia, muitos pastores se preocupam apenas em serem recebidos nos lares dos membros de suas igrejas e se esquecem de estabelecerem o modelo nessa prática. Contudo, o ser humano parece responder melhor à lei da reciprocidade social. Com isso, abrir as portas da casa pastoral para receber irmãos em Cristo pode resultar em maravilhas para o relacionamento do pastor com o rebanho. Essa prática pode ser simples e descontraída, como um convite para um café ou sobremesa. O diálogo desenvolvido nesses momentos geralmente é produtivo.

Algumas dessas prioridades podem ser mais fáceis ou dificultosas dependendo do contexto no qual o pastor estiver inserido, mas nenhuma pode ser dispensada no ministério daquele que deseja orientar sua agenda pelos princípios da Palavra de Deus. Além do mais, se as prioridades estiverem em ordem, a agenda do pastor não ficará susceptível às contínuas interferências e sobrecargas daqueles que quiserem ditar a ele suas atividades diárias.

Rev. Valdeci S. Santos – SNAP

[1] PETERSON, Eugene. The contemplative pastor. Grand Rapids: Eerdmans, 1993, p. 18 [Publicado em Português como O pastor contemplativo. São Paulo: Mundo Cristão, 2008].

 

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