Pastor, como vencer “aquele” pecado?

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O cristão é uma nova criatura, mas inúmeras vezes retorna à prática de “velhos hábitos”. Isso não é diferente com o ministro do Evangelho. A ordenação não consiste em um processo de aperfeiçoamento imediato e, portanto, o pastor pode evidenciar sua fragilidade e ocasionalmente agir como o “velho homem”. Alguém já comparou essa tensão aos antigos escravos no Brasil, que mesmo depois de libertos, com a Lei Áurea em 1888, não sabiam viver como pessoas livres. O fato é que mesmo recebendo novidade de vida em Cristo, muitos crentes ainda se veem apegados a pecados que parecem não conseguir vencer.

A decepção, de ainda ser controlado por alguns pecados arraigados, abate o crente e rouba a esperança de um dia poder desfrutar plenamente a alegria que sua nova condição lhe dá direito. Pior ainda, algumas pessoas ao redor geralmente olham para ele e/ou ela e questionam sua seriedade, maturidade e, muitas vezes, até mesmo a sua conversão. De fato, no íntimo, esse crente questiona todas essas coisas! O quadro chega a ser, por vezes, deprimente. Em se tratando de um pastor, a gravidade e a culpa se tornam mais intensas, pois se espera que ele seja modelo de piedade para o rebanho, mas como atingir esse alvo se em seu íntimo ele tem sido um derrotado?

Todos nós sabemos que a vida cristã consiste de lutas intensas, nas quais temos que “esmurrar” o nosso corpo para não sermos desqualificados e nos escravizarmos novamente a pecados dos quais fomos libertos pelo sangue de Jesus. Porém, alguns no corpo de Cristo não têm experimentado vitórias em áreas específicas nessa batalha: sexo, soberba, vaidade, paixões mundanas etc. Nesse sentido, qual deveria ser o procedimento bíblico para vencermos “aquele” pecado que tantas vezes nos rouba a alegria de seguir a Cristo, entristece tantas pessoas que nos amam e nos conduz à vergonha? Abaixo compartilho três passos básicos nesse processo.

Identifique o problema e dê nome a ele

Comumente estamos prontos a admitir que somos “falhos”, “fracos” e “pecadores”, mas dificilmente definimos qual é o pecado que mais nos controla. Todavia, honestidade é precursora da vitória. Além do mais, tudo que guardamos em “segredo”, “nas trevas”, continua sendo convidativo para que o Inimigo nos tente justamente naquele ponto.

Por essa razão, chame o pecado daquilo que ele realmente é: adultério (ainda que virtual), maledicência (e não apenas um comentário), preguiça (e não cansaço) e assim por diante. Enquanto estivermos tentando “pintar” nossos pecados com cores da justificativa e das desculpas, nunca estaremos livres deles. No entanto, devemos lembrar que o efeito cumulativo dessas “pequenas falhas” é tão eficaz e maléfico quanto algum pecado escandaloso, que muitas vezes chamamos de “grande pecado”.

Davi nos oferece uma lição de transparência e honestidade quando ele ora ao Senhor dizendo: “Confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei. Disse: confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniquidade do meu pecado” (Sl 32.5). Note que ele identificou o seu pecado e não o generalizou (multidão de pecados), pelo contrário, apresentou-o diante de Deus (não ocultei). Somente depois disso ele pôde experimentar a alegria do perdão.

Dessa maneira, se você quer triunfar sobre “aquele” pecado, pare de escondê-lo, de mentir sobre ele, dizendo que foi apenas um “deslize” e de oferecer explicações que não convencem nem mesmo a você. Simplesmente fale a verdade e diga qual é, de fato, o seu pecado.

Identifique os gatilhos que lhe tornam vulneráveis a ele

Aqui há algo interessante: as obras da carne sempre andam em grupo! O fato é que uma coisa acaba influenciando a outra e por isso uma queda nunca acontece “de um momento para o outro”.

Por exemplo, a ira pode levar alguém à impureza e ao adultério, especialmente se essa ira for contra o cônjuge, contra alguma coisa que não gostou no seu casamento ou mesmo contra Deus por não atender aos seus caprichos. O problema é que a pessoa irada acaba se convencendo que possui o “direito” de fazer alguma coisa que lhe dê prazer e, por isso, pode se envolver em um comportamento imoral e impuro, chegando, inclusive ao adultério (virtual ou físico). Por outro lado, a inveja pode contribuir com as discórdias, as dissenções e até as facções. Ou seja, a pessoa que se sente desprovida de valor, atenção, elogio ou posição que a outra recebeu, pode começar com “comentários aparentemente inocentes” que carregam o potencial de destruir a reputação da outra pessoa. O irônico é que essa pessoa invejosa continuará dizendo para si mesma que fez apenas um comentário!

Existem “gatilhos”, situações e ocasiões que nos deixam vulneráveis à dominação por pecados que há tempos desejamos mortificar. Por isso, não basta apenas conhecer qual é o nosso calcanhar de Aquiles ou identificar nosso pecado, mas perceber quais são as circunstâncias nas quais ele é mais propenso a nos controlar.

Tome medidas sérias (e até radicais) na luta contra ele

Nesse ponto, é necessário lembrar que ninguém vence a luta contra o pecado apenas com boas intenções. As intenções podem ser as melhores, mas se elas não se materializarem jamais obterão efeito concreto. Como diz o ditado: “de boas intenções, o inferno está cheio”! Por isso, medidas sérias precisam ser tomadas para colocar em prática aquilo que foi decidido no campo das intenções.

Para alguns, as medidas sérias poderão incluir deixar de assistir séries de TV que alimentam a sensualidade e a impureza da mente. Para outros, o compromisso de não acessar o computador sem deixar a tela totalmente visível as pessoas ao redor. Alguns ainda precisarão assumir o compromisso de sempre se lembrar do nono mandamento e, ao invés de levantar falso testemunho, se esforçar por bendizer a pessoa de quem ele (a) está falando. Há ainda a medida radical de pedir que outras pessoas o ajudem na luta contra o seu pecado. Nesse caso, talvez seja importante compartilhar o histórico do seu computador com outra pessoa, ou mesmo, se reunir periodicamente com alguém mais maduro espiritualmente (sempre alguém do mesmo sexo) para compartilhar suas dificuldades e fracassos e buscar orientação e orações.

Finalmente, lembre-se: “na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até ao sangue” (Hb 12.4). Ainda que seja difícil, não é impossível se ver totalmente livre daquele pecado que te escraviza, pois “para liberdade foi que Cristo nos libertou” (Gl 5.1)

Querido pastor e colega de ministério, que o Senhor continue nos abençoando em nossa luta em prol da santidade e que cultivemos perseverança nessa batalha. Afinal, devemos sempre lembrar que “a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança” (2Co 3.5-6).

Rev. Valdeci S. Santos  – SNAP

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