PRINCÍPIOS APRENDIDOS COM A LIDERANÇA DE JESUS

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O estilo de liderança de Jesus tem sido tema de várias obras literárias e seminários de treinamento em diversas empresas, inclusive aquelas que não possuem um compromisso com a fé cristã. Comumente chamada de “liderança servidora”, o exemplo de Jesus tem inspirado muitos líderes a se concentrarem nas necessidades dos outros, especialmente dos membros de sua equipe, antes de procurar atender suas próprias necessidades. Dois principais representantes dessa ênfase na atualidade são Robert K. Greenleaf[1] e James C. Hunter[2], autores de obras que se tornaram amplamente conhecidas pelos interessados nesse assunto.

A liderança de Jesus, porém, não ensina apenas o mundo empresarial. Ensina principalmente os cristãos. Nesse caso, nós, ministros do Evangelho, podemos aprender muito com a forma como o Supremo Pastor cuida de suas ovelhas. Dessa maneira, destaco dez princípios que tem me desafiado ao longo do ministério e espero que eles sejam úteis a você, leitor e colega de ministério.

1. Pessoas são ilógicas, irracionais e egocêntricas. Ainda assim, precisamos amá-las como o Senhor fez!

No pastorado, geralmente somos feridos pelas pessoas que tentamos cuidar. Algumas vezes, isso é tão forte que leva pastores a “fazerem a obra gemendo”. Todavia, o Senhor Jesus experimentou essa realidade mais intensamente do que nós e, na cruz, orou: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34). Ainda que ferido, ele continuou amando.

2. Se você fizer o bem, as pessoas poderão acusá-lo de motivos egoístas. Faça o bem de qualquer maneira.

A motivação para se proceder corretamente não deve ser o louvor das pessoas, mas a glória de Deus. Se nossa motivação depender dos outros, ficaremos dependentes deles para nossa alegria ou frustração. Se, por outro lado, dependermos somente da aprovação do Senhor, não seremos tão afetados pela ingratidão das pessoas. A seguinte experiência de Jesus nos serve de exemplo: “Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores! Mas a sabedoria é justificada por suas obras” (Mt 11.19).

3. Se você for fiel no seu trabalho, poderá ganhar falsos amigos e verdadeiros inimigos.

Aqueles que aplaudiram Jesus no domingo, na entrada triunfal de Jerusalém (Mt 21.1-11), também planejaram contra a vida dele e pediram sua crucificação no final daquela semana (Mt 26.1-5 e 27.11-26). Ainda assim, o Senhor permaneceu fiel e o mesmo deve ocorrer com os seus ministros, pois “o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel” (1Co 4.2).

4. O bem que você faz hoje poderá ser esquecido amanhã. Todavia, sirva às pessoas de qualquer maneira, como que servindo ao Senhor.

Um dos episódios mais intrigantes no ministério de Jesus foi a cura dos dez leprosos. A pessoa que retornou para expressar gratidão foi alguém de quem, aparentemente, menos se esperava tal ação. Em Lucas 17.17-18, encontramos o seguinte: “Então, Jesus lhe perguntou: Não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove? Não houve, porventura, quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?” (Lc 17.17-18). Esse fato, porém, não impediu Jesus de continuar cuidando das pessoas.

5. Honestidade e franqueza tornam você vulnerável. Seja honesto e franco de qualquer maneira.

Até hoje algumas pessoas, inclusive crentes, não compreendem certas afirmações de Jesus. Sua sinceridade em algumas questões fez com que ele parecesse insensível e muito duro aos ouvintes do passado e para alguns leitores dos evangelhos na atualidade. Por exemplo, como compreender as seguintes palavras de Jesus: “Supondes que vim para dar paz à terra? Não, eu vo-lo afirmo; antes, divisão” (Lc 12.51) ou “eu vo-lo afirmo; mas, se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis” (Lc 13.5)? Embora passível de crítica por seus contemporâneos, o Senhor continuou sendo honesto e franco em suas palavras.

6. Algumas vezes seremos rodeados por pessoas com ideias egocêntricas e mesquinhas. Contudo, devemos pensar grande assim mesmo e continuar investindo no Reino

Esse é um princípio que me ensina que “eu não tenho que vencer todos e nem todas as questões”. Lucas registra que, após Jesus ter revelado sobre sua morte redentora e a obra gloriosa que realizaria, seus próprios discípulos começaram uma controvérsia “sobre qual deles parecia ser o maior” (Lc 22.22-24). Ainda assim, Jesus não desistiu deles, mas passou a ensiná-los novamente, e dessa vez, com ilustrações práticas.

7. O que você gasta anos construindo pode ser destruído durante a noite. No entanto, construa assim mesmo.

O ministério público de Jesus durou três anos. Durante aquele tempo, ele trabalhou intensamente ensinando e dando exemplo de piedade aos seus seguidores, principalmente aos seus discípulos. Porém, um daqueles discípulos, com um beijo, à noite, o traiu. Os demais discípulos imediatamente o abandonaram (cf. Mt 26.48-49 e 56). Embora aquilo tenha sido para cumprimento das Escrituras, hoje também instrui e ensina os pastores debaixo do pastoreio do Supremo Pastor.

8. Pessoas precisam de ajuda, mas podem atacá-lo quando você quiser ajudar. Contudo, ajude-as de qualquer maneira.

Isso pode ocorrer tanto em uma experiência de afogamento, quando o salva-vidas acaba sendo atacado por aquele que está se afogando, como no cotidiano do ministério pastoral. O mesmo também ocorreu logo no início do ministério de Jesus, pois, após ler as Escrituras e se identificar como aquele que veio para proclamar libertação dos cativos e restauração da vista aos cegos, os participantes da sinagoga “levantando-se, expulsaram-no da cidade e o levaram até ao cume do monte sobre o qual estava edificada a cidade, para, de lá, o precipitarem abaixo” (Lc 4.29). Ao longo do seu ministério, porém, Jesus continuou prestando ajuda às pessoas.

9. Depois de toda sua dedicação às pessoas, elas poderão preferir alguém pior do que vocêIsso não significa, porém, que seu ministério foi um fracasso.

Muitos líderes não compreendem porque algumas pessoas “sem caráter” e com “procedência manchada” são mais populares do que os que procuram andar em dignidade e se esforçam por fazer a vontade de Deus. Mas o exemplo do povo escolhendo Barrabás, um ladrão reconhecido, ao invés de Jesus deveria ser suficiente para nos convencer de que a voz do povo não expressa a aprovação de Deus (cf. Mateus 27.17-21).

10. Não queira estar acima do Mestre e nem espere receber mais do que ele recebeu.

Um dos problemas no ministério pastoral é que geralmente alimentamos a expectativa errada em relação ao que nos espera. Infelizmente, muitos pastores espelham seu ministério em pessoas famosas e popularmente apreciadas. Porém, o modelo para o pastorado fiel é Jesus Cristo, que deixou aos discípulos a seguinte lição: “O discípulo não está acima do seu mestre, nem o servo, acima do seu senhor. Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o seu senhor. Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?” (Mt 10.24-25).

Cada um desses princípios não apenas desafia o pastor a seguir os passos de Jesus, mas o ajuda a compreender que, tanto na vida cristã quando no ministério pastoral, nosso objetivo deve ser satisfazer aquele que nos arregimentou (cf. 2Tm 2.4). Há uma grande diferença entre o ministério do Supremo Pastor e aquele de seus pastores assistentes, pois o ministério de Jesus possuía componentes redentivos que o nosso não possui. Ainda assim, é possível extrair inúmeras lições de como o Senhor lidava com pessoas e de como sua motivação principal era glorificar o Pai por meio de sua obra. Se observarmos isso no exercício do nosso ministério, será possível equilibrar as expectativas e, em cada sofrimento, ainda tributar culto a Deus, sabendo que para o Senhor executamos cada atividade.

Rev. Valdeci Santos – SNAP


[1] GREENLEAF, Robert. Servant leadership. Mahwah, NJ: Paulist Press, 2002 (edição do 25o aniversário).

[2] HUNTER, James C. O monge e o executivo. Rio de Janeiro: Sextante, 2010.

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