ERROS RELACIONAIS COMUMENTE COMETIDOS POR PASTORES – Parte 01

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Os primeiros dias de um novo pastorado são geralmente acompanhados por alegrias e expectativas. Depois de uma espera angustiante, orações, contatos e até lágrimas, chega o momento em que o ministro recebe o convite de uma igreja local ou a nomeação de um presbitério para o novo campo. No íntimo, ele deseja realizar um bom trabalho. Em sua mente, há tantas ideias e projetos que envolvem melhorias na Escola Dominical, vivificação de várias atividades da igreja, o crescimento espiritual e maior firmeza doutrinária dos membros, bem como um testemunho vibrante dos santos na comunidade.

O problema é que muitos desses entusiasmados ministros, acabam se tornando “pastores machucados” com o passar dos anos. Alguns colecionam históricos de despensas, mudanças de campo, situações nas quais eles ficam sem campo ou são até desligados do ministério. As causas para todos esses problemas certamente são variadas, mas a responsabilidade pode ser dividida entre a igreja e o pastor. Por certo existem igrejas com muitos membros não regenerados, que não possuem qualquer compreensão do Evangelho da graça e cujos líderes acabam se revelando déspotas no tratamento ao obreiro. No entanto, alguns pastores continuam cometendo erros infantis e parecem nunca aprender com suas próprias falhas.

Com respeito aos defeitos da igreja há que se considerar que algumas expectativas dos membros em relação ao ministro são até desumanas. Para alguns, ele não pode demonstrar qualquer fraqueza e por mais que ele se esforce para realizar um bom trabalho, nunca conseguirá agradar a todos. Na verdade, o membro da igreja sempre quer encontrar seu pastor sorridente, disponível e concedendo atenção indivisível, como se ele fosse a única alma a ser pastoreada. Também, algumas igrejas acreditam terem recebido o “mandato celestial” para manterem seus pastores humildes e por isso os deixam vivendo em condições de miséria. O salário nem sempre é dos melhores e reajustes ocorrem somente mediante imposição de instância superior (o presbitério). Há ainda o jogo de “críticas e comparações”, pois todos parecem conhecer um pastor que é melhor do que aquele por quem são cuidados. Haverá sempre um pastor midiático que gostariam de ter ou geralmente farão referência ao pastor antecessor, deixando claro a rejeição ao atual. Para piorar, a família do pastor ainda é submetida ao escrutínio dos membros da igreja. Sua esposa nem sempre é aceita nos grupos femininos e seus filhos serão continuamente observados e criticados. Nesse contexto, é difícil o pastor não se sentir ferido!

No entanto, o propósito principal desse artigo é refletir sobre alguns erros comumente cometidos pelos pastores, especialmente no trato com suas ovelhas. Não serão tratados os pecados grosseiros que geralmente resultam em despojamento, mas aquelas falhas que ainda que imperceptíveis aos seus autores, acabam afetando a imagem do pastor, dificultando sua aceitação no campo e ao final, rompendo os laços ministeriais. Infelizmente, a lista abaixo não é exaustiva, mas apenas representativa. Há outros erros que possuem o mesmo efeito cumulativo que não temos condições de abordar aqui. Por enquanto, nossa atenção recai sobre estes mencionados abaixo.

1. Se esquecer de que as pessoas difíceis na igreja correspondem ao objetivo da vocação pastoral. No texto de         Efésios 4.11-12, o apóstolo Paulo afirma que pastores são bênçãos do Cristo glorificado para a igreja terrena, pois quando ele subiu acima de todos os céus, concedeu uns para “pastores e mestres”. Todavia, isso foi feito “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos”, ou seja, o objetivo dessa santa vocação é lidar e ajudar irmãos imperfeitos.
Embora algumas situações e pessoas na igreja machuquem o pastor e tornem o seu ministério mais sofrido e difícil, a existência desses estorvos evidenciam o quanto o trabalho pastoral é necessário. Deus não enviou pastores para uma igreja glorificada ou completamente aperfeiçoada. No rebanho terreno o ministro encontra não apenas ovelhas feridas, mas bodes que chifram e “lobos vorazes que não pouparão o rebanho” (cf. At 20.29). Nesse contexto, o obreiro necessita imensa graça e a convicção de que, de fato, ele foi vocacionado por Deus para esse ministério de abençoar a igreja consolando alguns, confrontando outros e amando sacrificialmente aqueles que Cristo lhe confiou.

2. Invocar a autoridade sem primeiro conquistar a credibilidade pastoral. As Escrituras claramente conferem autoridade ao pastor (cf. Hb 13.17), mas precisamos considerar também que, na prática, o exercício dessa autoridade implica no reconhecimento por parte da congregação. Qualquer pastor que precisa lembrar à igreja de sua autoridade todo o tempo, provavelmente não possui regência sobre o seu rebanho.
Liderança não é imposta, mas é conquistada e cultivada. Somente por relacionamentos marcados pelo respeito mútuo e amor fraternal poderá a congregação reconhecer a autoridade que Deus conferiu ao seu pastor. Credibilidade no ministério pastoral é fruto da expressão de virtudes cristãs na conduta diária do obreiro em relação a suas ovelhas. Pastores que procuram colher os lucros da autoridade sem quaisquer investimentos na credibilidade logo serão lembrados do déficit no seu estilo de liderança.

3. Confundir convicções com preferências pessoais. Convicção se fundamenta na verdade objetiva da Palavra de Deus, enquanto preferência resulta da escolha subjetiva de alguém. Todos possuem preferências e isso também ocorre na igreja! Por exemplo, o estilo da música, o horário do culto, o material utilizado na Escola Dominical, a maneira de vestir ou até de interagir com outros. Pastores também possuem suas predileções! Todavia, pode surgir um problema quando o ministro insiste nessas preferências como se elas fossem verdades bíblicas a serem obedecidas por todos. Ao cometer tal erro, ele se esquece que suas ovelhas também possuem o Espírito Santo, o acesso às Escrituras e também estudam e ouvem outros pregadores a ponto de discernirem o que é predileção do obreiro e o que é uma verdade bíblica a ser obedecida.
O pastor sábio sempre procurará ser honesto com a igreja, deixando claro o que é um princípio de fé e o que simplesmente reside no campo de suas opiniões e escolhas. Na verdade, ele será mais respeitado pelos membros de suas igrejas quando assim o fizer.

Continua na próxima semana . . .

Rev. Valdeci da Silva Santos – SNAP

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