Um Padrão Observado na Queda de Pastores

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Introdução

Atuar como Secretário Geral de Apoio Pastoral da IPB tem sido uma fonte de alegria e contentamento, mas algumas vezes esse trabalho resulta em muita tristeza e angústia! Talvez, nada seja mais difícil nesse sentido do que confrontar um pastor que se desviou do caminho da santidade, ouvir uma esposa machucada pela atitude do marido e ver filhos desacreditados por causa do exemplo do pai. Tudo isso sem falar ainda das repercussões que a queda de um pastor traz à igreja local. De fato, Satanás parece obter enorme vantagem quando consegue seduzir um líder do povo de Deus, a fim de desanimar o rebanho comprado pelo sangue de Cristo!

Ao falar sobre a queda de pastores não me refiro aos “pecados corriqueiros”, pois ninguém espera que um pastor seja imune ao pecado. Todavia, o que dizer dos “pecados escandalosos”, que roubam a irrepreensibilidade do ministro diante do seu rebanho e da sociedade (cf. 1Tm 3.2)? O que dizer do adultério, da desonestidade na administração, das dívidas descontroladas, das atitudes violentas, do abuso doméstico, etc? Certamente, é possível descrever uma enorme lista que acaba caracterizando o desvio, a queda e a ruína de muitos pastores na igreja de Cristo.

Recentemente, li um artigo escrito por um dos alunos de Howard Hendricks, ex-professor do Dallas Theological Seminary, que foi produzido a partir de um estudo compartilhado pelo Dr. Hendricks sobre algumas semelhanças entre pastores que haviam fracassado moralmente e se tornaram desqualificados para o ministério pastoral (1Co 9.27). O estudo foi realizado com 246 ministros que, no período de dois anos, haviam sido despojados do ministério. Despois de entrevistar cada homem, Hendricks compilou quatro características comuns de suas vidas:

  • Nenhum dos homens estava envolvido em qualquer tipo de prestação de contas à outra pessoa;
  • Cada um dos homens tinha quase cessado de ter um tempo diário de oração pessoal, leitura da Bíblia e adoração pessoal;
  • Mais de 80% dos homens se tornaram sexualmente envolvidos com alguma outra mulher, situação que muitas vezes teve origem nas sessões de aconselhamento;
  • Sem exceção, cada um dos 246 estavam convencidos que aquele tipo de queda “nunca aconteceria com ele”.

Por mais antigo e limitado que o estudo do Dr. Hendricks possa parecer, ele acaba revelando um padrão comumente observado e testificado entre pastores que se desviam dos caminhos da santidade.

Refletindo sobre os dados do estudo de Hendricks, um de seus alunos, Garrett Kell[1], ressaltou algumas lições sobre a queda de alguns pastores que podem ser corretamente classificadas como um padrão nessa área. Compartilho-as, abaixo, a fim de ajudar e edificar muitos outros que ainda lutam para permanecer firmes no ministério sagrado.

  1. O pecado prospera no isolamento

A verdade é que Satanás vive na escuridão e anseia por nos manter nela também. Como o inimigo é o pai da mentira, o engano também sobrevive melhor na escuridão. É por isso que Deus, quando nos chama, nos chama para a luz (cf. 1Ts 5.4-5)! Nesse contexto, ele nos coloca na igreja, que é o Corpo de Cristo.

Deus criou a igreja para ser muitas coisas, incluindo uma comunidade onde as pessoas se ajudam mutuamente a lutar contra o pecado e a amar melhor o Redentor. Deus nos chama a relacionamentos nos quais podemos falar a verdade uns aos outros (Efésios 4.15, 25), confessarmos nossos pecados uns aos outros (Tiago 5:16) e a amar o suficiente àquele que se desvia (cf. Mateus 18.10-20; Gálatas 6.1-2; Tiago 5: 19-20). Em outras palavras, a igreja é uma comunidade onde podemos prestar contas uns aos outros e isso é uma bênção na nossa caminhada com Cristo.

Por isso, pergunto: quem, de fato, é seu amigo? A quem você regularmente presta contas e compartilha os segredos e angústias da alma? Quem não só tem permissão, mas atualmente está agindo com essa permissão, para lhe fazer perguntas diretas e penetrantes sobre o seu andar com Cristo? Em outras palavras, quanto mais você se isolar, mas vulnerável se torna aos ataques de Satanás e mais tempo pode permanecer cativo das trevas do prazer pecaminoso.

  1. Se você flertar com o pecado, você acabará cedendo a ele

Aqui está uma observação simples: a inclinação do pecado é escorregadia! Quanto mais você caminhar ao longo da borda do abismo, mais provável será que o seu pé escorregue. O problema é que ministros da Palavra, mesmo sabendo disso, se colocam em situações perigosas inúmeras vezes. Eles geralmente ignoraram que o homem íntegro e reto não apenas teme ao Senhor, mas também foge do mal (Jó 1.1).

Quando alguém cai em pecado, isso é uma prova de que aquela pessoa não guardava o seu coração (Provérbios 4.23). No caso de líderes, eles também não guardavam o coração das pessoas que deveriam proteger. Em vez disso, eles se tornaram cegos pelo engano do pecado (Efésios 4.22; Hebreus 3.13) e foram levados para o fosso da destruição (Mateus 15.14).

Por isso, pergunto: De que maneira você está flertando com o pecado? Que provisões você está fazendo para a carne em relação à luxúria (Romanos 13.14)? Que detalhes você está escondendo? Quais os e-mails que você está excluindo? Quais históricos de busca na Internet você está apagando?

É possível que o pecado esteja agachado em sua porta (Gênesis 4.7) e o tentador procurando uma oportunidade para atacar (1Pedro 5. 8). Dessa forma, fuja do pecado; não flerte com ele (Gênesis 39.6-12; Provérbios 5-7, Romanos 6.12-13; 2 Timóteo 2.22 e 1 Pedro 2:11).

  1. O orgulho nos cega quanto à nossa própria fraqueza

No estudo do Dr. Hendricks, muitos pensaram que nunca seriam vulneráveis aos pecados escandalosos, até que eles lamentassem seus efeitos mais tarde. O fato é que as Escrituras advertem: “aquele que pensa estar em pé veja que não caia” (1Coríntios 10.12). Além do mais, Salomão ensina que a impressão de bem-estar acaba levando os loucos à perdição (Provérbios 1.32).

Além do mais, se considerarmos alguns personagens da Bíblia ficaremos admirados com a pecaminosidade do pecado. Por exemplo, Sansão foi o homem mais forte da Bíblia, Salomão, o homem mais sábio da Bíblia e Davi, o homem segundo o próprio coração de Deus. Todavia, todos foram superados pela tentação do pecado sexual (Juízes 14-16; 1Reis 11.1-8; 2Samuel 11-12 e Salmo 51). De fato, ninguém está acima da tentação!

O escritor de Provérbios observou que “a soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda” (Provérbios 16.18). Aquele que não considera suas próprias fraquezas acaba se achando invulnerável ao pecado e não faz quaisquer provisões contra a tentação. O problema é que isso já é, em si, um trunfo do tentador.

  1. A pureza é cultivada como expressão do amor a Jesus

Em algum lugar ao longo da caminhada, aqueles pastores do estudo de Hendricks negligenciaram a disciplina da devoção e dedicação a Cristo. As orações se tornaram menos apaixonadas. O estudo bíblico passou a ser um exercício profissional. As promessas da Palavra de Deus cresceram empoeiradas. O amor por Jesus se tornou uma experiência passada, algo a ser lembrado e não vivido. Como resultado, a sedução do pecado e a loucura em sacrificar o ministério para satisfazer desejos íntimos se tornou demasiadamente forte para serem resistidos.

A verdade é que a única motivação suficientemente resistente para se fugir do pecado é o amor e a gratidão por Jesus. Qualquer ordenança humana e determinação pessoal em obedecer às regras legalistas não têm valor algum contra a sensualidade (Colossenses 2.20-23). Somente quando somos constrangidos intimamente pelo amor de Cristo, nos consagramos livremente a ele e temos na comunhão com ele o prazer da sua aprovação.

Por isso, insisto: não permita que seu coração fique gelado em relação ao Senhor. Busque-o diariamente, momento após momento, sabendo que ele é melhor do que qualquer prazer fugaz que possa atrair seu coração. Não busque o Senhor apenas em dias de desespero, mas diariamente e sistematicamente. Não despreze sua devocional individual, sua leitura bíblica, seus momentos de derramar o coração diante do Senhor. Lembre-se de que comunhão é algo a ser cultivado e o mesmo acontece em nosso relacionamento com o Redentor.

Finalmente, é importante saber que o padrão de queda acima exposto não se aplica somente a pastores, mas também aos presbíteros, diáconos, pedreiros, encanadores, mães, jovens e assim por diante. Na verdade, o pecado não faz acepção de pessoas e se o inimigo percebe que uma estratégia foi bem-sucedida com alguém, ele logo tentará estender o seu experimento a outros. Por isso, embora esse artigo se dirija a pastores, os princípios aqui deveriam ser observados por todos os crentes em Cristo.

Rev. Valdeci da Silva Santos

[1] Disponível em: http://garrettkell.com/pattern-among-fallen-pastors-lessons-us/ Acesso em: 02.07.2017.

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