PASTOR, NÃO SACRIFIQUE SUA FAMÍLIA POR CAUSA DO MINISTÉRIO

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Uma das reclamações frequentes de esposas e filhos de pastores é eles, muitas vezes, se dedicarem mais à igreja e suas programações do que ao cuidado e à agenda familiar. Isso acaba contribuindo para a solidão da esposa do pastor, bem como o distanciamento entre o pai-pastor e seus filhos biológicos. Ao final, a família do pastor acaba sendo o grupo menos pastoreado no seu rebanho.

Com respeito às esposas de pastores, não seria nenhum exagero salientar que algumas acreditam que seus maridos estão cometendo adultério com a “noiva do Cordeiro”, pois o tempo e dedicação deles à igreja acaba afetando a “vida comum do lar”. Isso faz com que eles nunca tenham tempo para ouví-las, ajuda-las nas tarefas domésticas ou demonstrar interesse pelos seus projetos pessoais. O termo irônico comumente empregado para descrever o status dessas irmãs é “viúva-viva”. Talvez, se algumas soubessem que a assinatura no Termo de Casamento resultaria nessa condição, teriam hesitado em consentir com essa união. De fato, o ativismo pastoral afeta diretamente a esposa do ministro.

Quanto aos filhos dos ministros, o fato de os “filhos na fé” receberem, em algumas ocasiões, mais atenção dos pastores do que seus descendentes naturais, gera insatisfação, confusão e até amargura. Os ministros geralmente acreditam que seus filhos compreenderão suas frequentes ausências, o cansaço como estilo de vida e o sacrifício em prol de outras pessoas. Contudo, nem sempre essa compreensão é atingida e a sensação do abandono e desprezo fragiliza a relação pai e filhos.

Pastores necessitam ser continuamente lembrados da conexão estreita existente entre a vida familiar e o exercício ministerial. As qualificações bíblicas para o pastorado exigem que ele seja “marido de uma só mulher” e “que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito” (1Tm 3.2 e 4). Além do mais, o apóstolo Paulo afirma que “se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente” (1Tm 5.8). Portanto, o cuidado do pastor por sua família deve ser prioritário. Se o ministro perder sua família, ele também perde seu ministério. O cuidado do obreiro com sua família é o fundamento comprobatório de sua qualificação para o pastorado. Dessa maneira, nenhum obreiro deveria sacrificar sua família por causa do ministério.

A família do pastor deveria ser capaz de vê-lo tão disposto a responder às necessidades familiares como ela o vê respondendo às crises na igreja. Também, ela deveria vê-lo dizer não para as demandas de outras pessoas, assim como ele diz não para alguns compromissos familiares. Na tentativa de ajudar alguns colegas de ministério a atingirem esses alvos, listo algumas simples sugestões abaixo.

  1. Discipline o uso que você faz do telefone, especialmente nos momentos em família. É possível se sentar à mesa do jantar sem as contínuas interrupções das mensagens de WhatsApp ou as chamadas incômodas. A melhor coisa a fazer é deixar o aparelho distante para que nem mesmo seja tentado a olhar para ele nesses momentos. A mensagem que o pastor passa à sua família nessas ocasiões é que sua atenção será singularmente dedicada a ela. Outra coisa a fazer é diminuir sua participação nos inúmeros grupos de WhatsApp da igreja local. Alguns desses grupos acabam replicando mensagens e nem sempre são usados para comunicar informação prioritária. O telefone deve ser usado pelo pastor como uma ferramenta e nunca como uma armadilha.
  2. Observe cuidadosamente o dia de folga e os momentos de descanso. Alguns pastores parecem ignorar completamente a necessidade de descanso. Há aqueles que até se orgulham por terem uma agenda repleta a ponto de não dedicarem qualquer momento para a família. É possível que esses acabem se mantendo tão ocupados para que suas atividades “justifiquem a importância” de seus ministérios. Nesses casos, há um desvio de propósito quanto a essas tarefas e tanto o ministro quanto sua família serão prejudicados.

Observar um dia de descanso, além de ser um mandamento bíblico, é restaurador. Tanto o pastor quanto seus familiares poderão ter o vigor renovado após as correrias comuns do ministério. Nesses casos, a igreja também é beneficiada pelo renovo do ânimo da família pastoral.

  1. Cultive os momentos especiais com sua esposa. A solidão do pastor no ministério só não é maior do que a de sua esposa. Enquanto o dia dele pode ser preenchido com encontros, reuniões, visitas e atendimentos a outros, ela, no geral, passa a semana distante dos contatos com os irmãos da igreja. Se trabalha em casa, a lida doméstica ocupa os dias dela, e se exerce alguma atividade fora do círculo doméstico, suas interações nem sempre são com pessoas crentes.

Nesse sentido, se o pastor puder aproveitar cada momento ao lado de sua esposa para ambos desfrutarem da companhia um do outro, isso será especialmente saudável. Uma caminhada, uma conversa sobre o dia ou um passeio ao shopping ou até mesmo aquele momento em que ele se oferece para lavar as vasilhas enquanto ela termina o almoço de domingo, enfim, o importante é que ambos prezem o simples ato de dedicarem atenção um ao outro. Um bom relacionamento com a esposa acaba influenciando beneficamente o trato com os filhos e, consequentemente, até o relacionamento com os membros da igreja.

  1. Envolva sua família no ministério. Algumas vezes, na tentativa de proteger seus familiares de críticas e exigências descabidas, o pastor acaba afastando sua esposa e filhos das atividades da igreja. Eles passam a ser meros expectadores da dinâmica eclesiástica. Essa atitude, porém, pode ser extremamente negativa, pois além de distanciar seus queridos da igreja, esse “zelo excessivo” impede que a esposa e os filhos crentes do pastor exerçam seus dons e talentos no contexto que o próprio Deus designou para que eles fossem praticados. Mas se a família do pastor o acompanhar no ministério, ele tem a oportunidade de desfrutar de intimidade com ela e ainda concluir suas tarefas em prol do rebanho. Ademais, uma família envolvida no ministério do pastor pode, inclusive, auxiliá-lo em seu ministério de intercessão pelo rebanho, pois conhecendo melhor as necessidades da igreja, todos poderão orar pelo Corpo de Cristo.
  2. Programe suas férias em família. Períodos de férias podem ser extremamente gratificantes ou frustrantes, dependendo de como eles são programados. No geral, a frustração ocorre quando a família espera que todos estarão dedicados uns aos outros, mas, devido à falta de programação e organização, nada do que foi esperado ocorre e então o caos se instala. Mas se o pastor estiver consciente que esse é um período que ele pode se dedicar integralmente aos seus, programará para que as interrupções não o desviem dos planos originais e esses momentos podem fortalecer os laços familiares. Assim, alguns instantes dedicados à organização podem resultar em bons frutos.
  3. Evite se envolver em questões que não fazem parte do cerne do seu chamado. Os apóstolos de Cristo compreenderam que o ministério para o qual eles foram chamados implicava em consagração contínua à oração e ao ministério da Palavra (At 6.4). Esse parece ser o cerne do ministério sagrado. Outras atividades, por mais importantes e urgentes que sejam, podem ser delegadas a outras pessoas no rebanho. Infelizmente há muitos pastores que consomem seu tempo em atividades burocráticas da igreja que poderiam ser desempenhadas por um secretário ou contador. Também, há alguns ministros que passam mais tempo supervisionando construções de templos do que cuidando de sua família ou mesmo de suas ovelhas. É necessário focalizar no desempenho daquilo para o qual o ministro foi divinamente vocacionado. As atividades periféricas devem ser desempenhadas por outros. Se não há outra pessoa para realizar essas tarefas, é mister considerar o treinamento ou a contratação de um profissional para que o ministro esteja livre desses fardos a fim de se dedicar exclusivamente ao ministério.

Querido pastor, certamente haverá tensões na busca de manter harmonia entre a atenção à família e à igreja. A boa notícia, porém, é que um ministério fiel e bem-sucedido não exige o sacrifício da família. Aliás, Deus não se agrada de sacrifícios desnecessários e externos. É necessário aprender a estabelecer prioridades em nossa agenda para que nosso ministério resulte em maior edificação e crescimento tanto para a família quanto para a igreja. Oro para que o Senhor o abençoe e conceda discernimento nesse sentido.

Rev. Valdeci S. Santos – SNAP

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