O Pastor e o Uso das Mídias Sociais

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Você possui uma participação ativa nas mídias sociais? Por exemplo, você usa o WhatsApp com frequência, acessa o Facebook diariamente, posta no Instagram, procura saber o que está acontecendo via Twitter etc? De fato, as interações virtuais fazem parte do dia-a-dia contemporâneo. Não fazer parte do universo virtual se tornou sinônimo de atraso e desinformação.

No entanto, todos precisamos estar atentos ao fato de que a mídia virtual oferece não apenas benefícios, mas também perigos. Alguns desses riscos afetam a vida familiar e outros podem comprometer o desempenho profissional, a segurança econômica e a integridade moral. Há, ainda, aqueles que comprometem nossa fé e testemunho cristão.

A fim de ajudar na reflexão sobre a participação do cristão na mídia virtual, peço que considere o texto abaixo uma pequena lista dos perigos que rondam a todos que trafegam nesse universo. A melhor maneira de evitar esses perigos começa com a conscientização deles.

  1. Estabelecer uma presença virtual e se distanciar dos relacionamentos reais. Um dos efeitos da tecnologia é aproximar quem está distante e distanciar os que estão próximos. Com isso, não é incomum encontrar um casal dividindo o mesmo espaço (seja em casa ou no restaurante), se encontrarem comprometidas em interagir via celular com outros que não se encontram ali. É possível que, com o passar do tempo, o relacionamento presencial seja desgastado a tal ponto que os cônjuges passem a se relacionar como estranhos. Algumas vezes um dos cônjuges até gostaria de conversar algum assunto sério, mas a atenção do outro nas mídias sociais acaba ignorando e desmotivando qualquer iniciativa.

No caso do pastor, a dinâmica virtual pode aproximá-lo de vários outros cidadãos do Reino, mas distanciar-se de suas ovelhas locais. É possível consumir tanto tempo nas interações midiáticas a ponto de sacrificar visitas pastorais, aconselhamentos aos membros da igreja e preparação para pregações e o tempo dedicado a sua própria família. De fato, esse é um risco real e iminente.

  1. Usar o envolvimento virtual como um mecanismo de fuga da realidade. A vida real pode parecer, algumas vezes, dolorosa, monótona e cruel. Cultivar relacionamentos e manter a harmonia com os outros são investimentos extremamente difíceis. De fato, seria melhor se as pessoas não nos criticassem, se apenas elogiassem ou apreciassem, se nos aceitassem incondicionalmente e não demandassem tanto. Pois bem, o universo virtual parece oferecer exatamente isso. Ali as pessoas não julgam; apenas elogiam! O problema é que nesse mundo nem todos se comprometem. Poucos dali vêm ao nosso socorro quando estamos sofrendo. Na maioria dos casos, o envolvimento nesse universo é, de fato, apenas virtual. Esse é um mundo de consumidores em que muitos, fugindo da realidade, acabam se iludindo com as armadilhas do mundo irreal e utópico.

Por exemplo, o pastor que não obteve muito sucesso no ministério real local, pode se tornar um “pop star” na mídia social. Talvez por essa razão, muitos obreiros dedicam mais tampo as suas postagens do que ao árduo trabalho de equipar a liderança local ou preparar uma exegese do texto do sermão dominical.

  1. Recorrer aos relacionamentos virtuais para compensar baixa estima ou algum sentimento de desprezo e marginalização por outros. Normalmente quem é muito introvertido ou se sente desprezado socialmente, recorre ao mundo virtual para interagir, postar fotos, deixar uma mensagem etc. Em outras palavras, aquilo que a pessoa não conseguiu concretizar na realidade pode ser executado no mundo virtual. Aliás, nesse universo o indivíduo pode até criar um perfil, uma identidade, totalmente contrária àquela de sua vida real. Geralmente não se posta fotos de sua tristeza ou de suas expressões de angústia. Todavia, nosso dia-a-dia possui frustrações, lágrimas e dor. De fato, a mídia virtual acaba sendo usada como um instrumento de compensação, mas isso contribui para que o “verdadeiro problema” não seja abordado e tratado.

A dinâmica do ministério pastoral favorece os sentimentos de inadequação. O pastor é frequentemente criticado, corrigido ou não apreciado pelos seu rebanho. Isso faz com que ele seja fortemente tentado a se refugiar no universo virtual, onde pode encontrar aquilo que nem sempre encontra na interação ministerial local. Essa tentação de fuga, porém, acaba piorando o relacionamento do pastor com suas ovelhas e isso pode chegar a um ponto insuportável para ambos.

  1. Ignorar que validação e aceitação no universo virtual estão, em certa medida, conectadas à nossa aceitação dos valores sociais mundanos. Seria interessante fazer o teste de deixar um comentário nos canais virtuais quanto ao nosso posicionamento bíblico sobre a indecência no vestir, a promiscuidade nas baladas e shows musicais, a democratização da maconha, o excesso da bebida entre os jovens e depois esperar pela reação daqueles que costumeiramente nos elogiam. Para alguns seríamos tidos por antipáticos e outros deixariam de nos seguir pensando que recebemos alguma “lavagem cerebral” religiosa. O fato é que as pessoas nos aceitam enquanto estamos servindo à causa delas (ou à causa do mundo e do diabo). A partir do momento que nos posicionarmos como “missionários de Deus” nesse universo nos tornamos impopulares.

No geral, pastores fazem uso das mídias sociais como instrumento de divulgação ministerial e evangelístico. Ainda assim, a sobrevivência nesse universo traz alguns desafios éticos e, algumas vezes, demanda fazer “vistas grossas” a certos assuntos que afetam nossa postural confessional. Nesse sentido, é necessário cuidadosa atenção para que o aspecto profético do ministério não seja minimizado em prol da aceitação social.

  1. Se esquecer da regra principal de que qualquer coisa que for postada nesse fórum poderá ser vista, divulgada e comentada por alguém em algum lugar. Na verdade, os canais sociais são verdadeiros outdoors divulgando não uma marca, mas uma pessoa: você! Esses outdoors virtuais serão avaliados e comentados, potencialmente, por todas as pessoas que têm acesso ao universo midiático. Essa é uma das razões pelas quais geralmente somos orientados a observar a política de privacidade de cada canal utilizado. Assim, antes de postar algo (foto, comentário, poesia, imagem etc.), você deveria ter a certeza de que isso, de fato, promove a glória de Deus e a edificação de outras pessoas ao seu redor. Também, é necessário ter a segurança de que isso não será usado contra você ou para o mal.

Conquanto esse tópico seja procedente sobre todo crente, é especialmente verdadeiro em relação ao ministro do Evangelho. O ministro representa o Supremo Pastor das ovelhas e tudo aquilo que ele produz, publica e comunica, deve glorificar ao que o vocacionou para esse trabalho. O universo virtual também deve ser considerado como campo onde o testemunho sobre Jesus deve ser autêntico e firme. Assim, cada postagem deve contar em prol do avanço do Evangelho. Não se esqueça de que, como crente, você representa Cristo, seja no mundo real ou no universo virtual.

Enfim, seja crítico com você mesmo antes de postar alguma coisa. Lembre-se que especialmente suas fotos acabam revelando mais do que você gostaria. Elas revelam o ambiente no qual você se encontra (casa, escola, trabalho, restaurante etc.) e isso mostra aos outros alguns de seus locais favoritos. Em termos de segurança, essa é uma questão extremamente delicada, pois algumas pessoas más acabam coletando essas informações para prejudicar você. Portanto, seja zeloso pela sua família, seu nome, seu ministério e as ovelhas de sua igreja. Pense duas vezes antes de postar alguma coisa.

Considere que algumas interações virtuais são uma perda de tempo. O problema é que o tempo perdido não poderá jamais ser recuperado. O tempo não é elástico e ele não nos pertence. Deus concedeu apenas um período para cada um a fim de que essa pessoa administre da melhor forma esse presente de Deus. Se perdemos tempo em qualquer atividade, teremos que sacrificar outra área ou pessoas pelo nosso tempo perdido. Por exemplo, o casal que comprometeu seu convívio por causa da entrega demasiadamente às interações virtuais, certamente sofrerá. O filho que não consegue interagir com o pai ou a mãe por causa da atenção às mídias sociais também pagará o preço devido. O pastor que se dedicou mais aos seus relacionamentos virtuais do que ao seu rebanho, aumentará suas aflições ministeriais. Portanto, não permita que o trivial roube, de sua vida, o lugar daquilo ou daqueles que são importantes.

Como foi dito, nossa lista não é exaustiva e talvez você possa colaborar acrescentando outros tópicos a ela. O objetivo aqui foi apenas levantar alguns pontos que podem ser úteis em suas reflexões sobre o seu envolvimento com as mídias virtuais. Que o Senhor nos dê sabedoria no uso dessa ferramenta!

Rev. Valdeci S. Santos – SNAP

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