POR QUE GOSTO DE SER UM PASTOR?

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“Por que você gosta de ser pastor?”. Assim me perguntou meu filho, enquanto nos dirigíamos para universidade onde ele cursava o último ano na faculdade de administração. Eu não esperava pela indagação, falávamos sobre diferentes coisas naquela manhã. Mas a pergunta veio, abrupta e direta, como temos a liberdade de fazer em família. Sem elaborar muito a resposta, respondi: “Porque eu trabalho para a eternidade! Várias pessoas para quem prego o Evangelho e sirvo aqui na terra serão recebidas juntamente comigo na volta de Cristo”. Aquilo aparentemente o satisfez, pois, no restante do percurso, ele se calou dentro do carro e apenas me desejou um bom dia de trabalho quando chegamos na universidade.

A pergunta, contudo, continuou martelando em minha mente após aquele dia. No geral, os pastores conversam e escrevem sobre suas dificuldades e lutas no ministério. De fato, o pastorado é cheio de contratempos e angústias. Há muito trabalho e pouca valorização por parte do rebanho, especialmente daqueles com quem compartilhamos a liderança. Por outro lado, há também bênçãos, alegrias e privilégios que nenhuma outra vocação traz. Talvez por essa razão o apóstolo Paulo escreveu que “se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja” (1Tm 3.1).

Dessa forma, depois de refletir mais na pergunta de meu filho, identifiquei várias razões que me fazem gostar de ser pastor. Compartilho aqui apenas alguns desses fatores que, ao longo desses poucos anos, têm sido bálsamos para o meu coração.  

O privilégio de ser pastor auxiliar do Supremo Pastor (cf. 1Pe 5.1-4).

O rebanho a ser pastoreado pertence a Cristo, que por ele morreu e o “comprou com o seu próprio sangue” (Atos 20.28). Cada crente é uma ovelha que pertence ao Supremo Pastor. Tudo que o Ministro do Evangelho pode fazer é exercer fielmente a sua vocação de cuidar dessas ovelhas e ajudá-las a crescer no amor e devoção Àquele a quem elas pertencem. Como todo crescimento consiste de um processo complexo e repleto de surpresas, algumas vezes essas ovelhas não compreendem o trabalho do pastor assistente e acabam se voltando contra ele. Mas, mesmo nesses momentos, o pastor assistente deve se comprometer a representar corretamente Aquele que o arregimentou, sendo um verdadeiro embaixador de Cristo (2Co 5.20).

Como todo pastorado auxiliar é cargo de confiança, é confortador saber que o Supremo Pastor confiou suas ovelhas ao Ministro do Evangelho para que elas sejam cuidadas, instruídas e pastoreadas para Ele. Considerar esse fato revela o enorme privilégio de ser pastor e, particularmente, me leva a celebrar minha posição de atuação no rebanho de Cristo.

A alegria de pregar a mensagem transformadora do Evangelho

O Evangelho é poderoso para salvar todo o que crê (Rm 1.16-17). Cada domingo, e vários outros dias da semana, o pastor tem inúmeras oportunidades de proclamar as poderosas boas novas que transformam vidas. É empolgante observar o poder dessa mensagem na prática, libertando pessoas que antes eram escravas dos mais variados vícios e que agora vivem para a glória do Redentor. É fascinante ver a restauração de relacionamentos, a cura de feridas espirituais e emocionais e o nascer da esperança no coração daqueles que creem no Evangelho. Nenhuma outra mensagem do mundo possui essa eficácia! Pertence ao pastor, por uma vocação especial, o privilégio de proclamar essas boas novas da graça ao rebanho que lhe foi confiado, bem como aqueles que se avizinham desse rebanho. Talvez por essa razão conta-se que Charles H. Spurgeon dizia aos seus alunos: “Se a rainha da Inglaterra vos convocar para serem embaixadores dela em outros países, não se rebaixem!” O pastor é um embaixador e arauto do Evangelho.

A oportunidade de ensinar e treinar diferentes gerações de cristãos

O pastor é um líder que, a despeito do seu estilo de liderança, procura unir a igreja em torno de alvos comuns e despertá-la para o trabalho voluntário no Reino de Deus. No exercício dessa atividade, ele tem o privilégio de influenciar diferentes gerações. Das crianças aos idosos, o pastor ensina e capacita os crentes a viver a vida cristã segundo as Escrituras e capacita-os a compartilhar o Evangelho tanto no círculo doméstico quanto em outras partes do mundo. Enfim, todos, de alguma maneira, são beneficiados pelo ensino de um pastor piedoso.

Tudo isso é possível porque o pastor é um despenseiro de Deus, alguém a quem foi confiada a chave da despensa de onde vem o alimento para os membros da casa. Nesse sentido, todas as vezes que ele prepara um sermão, um estudo bíblico, uma aula de EBD ou escreve algo, o resultado do seu trabalho pode nutrir muitas vidas, não importando a idade da pessoa ajudada. Sempre é gratificante para um pastor quando alguém se lembra de algo que ele pregou, escreveu ou disse e que, em determinado momento, foi benéfico para esse alguém. Embora muitos beneficiados permaneçam no anonimato, o fato é que o ensino e o exemplo do pastor influenciam diferentes gerações e isso é sempre empolgante.

A responsabilidade de treinar líderes para a próxima geração

Uma das responsabilidades da liderança espiritual é compartilhar com os outros o que aprendemos e ensiná-los a fazer o mesmo (2Tm 2.2). O pastor é especialmente abençoado com essa responsabilidade, pois muitos jovens sob sua influência certamente assumirão funções de liderança sobre a igreja de Cristo no futuro. Além do mais, alguns desses poderão ter oportunidades que ultrapassam as esferas eclesiásticas e atingem a sociedade como um todo. O trabalho do pastor como um instrutor e mentor dessas pessoas é uma prerrogativa incalculável. O esforço do ministro nunca se resume ao momento imediato, já que ele planta sementes que germinarão no futuro. Em outras palavras, o pastor é responsável por compartilhar e inculcar a visão da redenção nas diversas áreas desse mundo.

Os estudantes de história leem, com alegria, a biografia de homens como William Wilberforce (1759-1833) e Abraham Kuyper (1837-1920), que foram políticos influentes em suas nações. Poucos consideram, porém, o impacto que ministros praticamente anônimos tiveram sobre a vida desses dois grandes cristãos. Portanto, é importante que o Ministro do Evangelho avalie corretamente sua função a fim de perceber quão privilegiada é sua vocação.

A bênção de estudar e ensinar os princípios eternos da Palavra de Deus

No Antigo Testamento, os profetas ministravam sob a convicção de que Deus falava por meio deles e o próprio povo os considerava como servos de Deus que lhes traziam os sagrados ensinamentos. Normalmente aqueles servos de Deus se consideravam privilegiados por executar aquele serviço. Nos dias atuais, os pastores também têm a oportunidade de declarar a palavra de Deus aos seus ouvintes (cf. 1Co 15.3 e 1Ts 2.13) e, portanto, não deveriam se sentirem menos honrados pelo seu trabalho.

No exercício do ministério pastoral, os pastores estudam as Escrituras buscando compreensão e prudência, pois somente o texto sagrado pode conceder a eles a sabedoria que vem lá do alto (Tg 3.13-18). Poder fazer isso todos os dias e ainda ser pago para fazê-lo é um incrível privilégio desfrutado pelo pastor dedicado. Em outras palavras, o ministro possui um lugar especial na primeira fila para conhecer melhor as Escrituras e observar a eterna Palavra de Deus transformar vidas. Nenhuma pessoa sensata deixaria de observar essa grande bênção!

Por esses motivos e tantos outros, posso afirmar que amo ser pastor. Nenhuma outra vocação na vida é tão nobre e tão abençoada quanto essa. Um dos meus mentores espirituais costuma brincar dizendo que há pessoas fáceis que Deus salva e inclui no rebanho. Outros são tão difíceis que Ele chama para o ministério a fim de mantê-los bem perto dEle. Na verdade, sou uma dessas pessoas difíceis, mas, ao me chamar para o ministério, o Senhor concedeu a segunda grande bênção em minha vida: primeiro a salvação e em segundo a vocação.

Retornando à história do meu filho, ele, como eu disse no início, se calou naquele dia dentro do carro. O que eu não sabia era que, alguns meses depois, ele entraria em nosso quarto para dizer a mim e à mãe dele que havia tomado uma decisão importante em sua vida. Quando paramos para ouvi-lo, ele disse que queria ser pastor. Pedi maiores explicações, visto que ele estava terminando o seu curso na faculdade. De forma direta, ele me respondeu: “Porque quero fazer o que você faz: trabalhar para a eternidade!” Aquele certamente foi um dos momentos mais felizes de minha vida, comparado apenas ao dia que o irmão mais velho dele havia me confidenciado sua decisão de também servir no ministério pastoral. De fato, existem dificuldades no ministério pastoral, mas também existem inúmeras bênçãos e gosto muito de ser pastor!

Rev. Valdeci S. Santos – SNAP

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