A ATIVIDADE DO PASTOR COMO EVANGELISTA

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Em seu livro The pastor-evangelist [O pastor-evangelista], o missiólogo Roger Greenway relata um fato interessante ocorrido com um pastor no Siri Lanka há alguns anos. Aquele homem havia pastoreado uma das maiores igrejas da região, mas em uma determinada manhã enfrentou um desafio acima de suas habilidades e precisou, desesperadamente, buscar o auxílio de um missionário nas redondezas. Pelo telefone o pastor explicou ao missionário que havia um monge budista à porta da sua casa, o qual estava interessado em se tornar um cristão, mas ele não sabia o que fazer naquelas ocasiões. O pastor justificou seu pedido de ajuda dizendo que se dedicara tanto às atividades da igreja local e a assistência aos membros que já não sabia evangelizar.[1]

A história pode parecer absurda para alguns, mas estudos estatísticos indicam que a evangelização é uma das maiores dificuldades encontradas no ministério pastoral. Após quatro anos de pesquisa sobre o assunto, Martha G. Reese descobriu um número significativo de pastores que não possuíam qualquer experiência em evangelismo pessoal.[2] Um dos prováveis fatores responsáveis por esta realidade é que alguns seminários enfatizam o aprendizado acadêmico em detrimento à experiência prática. Além do mais, o material ensinado, muitas vezes, prepara o aluno apenas o ministério com cristãos ou pessoas que tenham familiaridade com questões eclesiásticas e não para interações evangelísticas. Outro elemento agravante é a expectativa geral da igreja de que o pastor supervisione tantas programações locais que ele se torna um burocrata fragmentado em meio a tantas atividades que nenhuma delas é desempenhada a contento. Neste contexto, o compromisso do ministro com a evangelização se resume a pregações esporádicas sobre o dever da igreja em evangelizar o mundo. Como alguém que discute técnicas de pescaria sem jamais ter apanhado um peixe, esse pastor passa a falar de coisas que lhes são desconhecidas.

Há, no mínimo, dois sérios problemas resultantes da falta de compromisso do pastor com a prática evangelística. Em primeiro lugar, esta atitude é uma desobediência direta à própria natureza do ministério pastoral, pois Paulo ensina que o pastor deve fazer o trabalho de evangelista (2Tm 4.5). No texto original o apóstolo não emprega o artigo definido ao exortar Timóteo a cumprir a obra de evangelista. Assim, Paulo não indica que Timóteo possuía duas funções (a de pastor e a de evangelista), mas que o ministério pastoral possui um caráter evangelístico. Também, o exemplo de Jesus, o Supremo Pastor, evidencia seu zelo evangelístico. Logo, quando um pastor negligencia ou despreza a prática evangelística ele milita contra a própria natureza do seu chamado. Em segundo lugar, a falta de comprometimento do pastor com a evangelização resulta em um péssimo exemplo para a própria igreja. Como líder do rebanho, as ações do pastor são cruciais para a instrução prática daqueles que estão sob seu cuidado. Quando ele se limita e ensinar sobre a evangelização ele transmite certa incoerência ao seu rebanho que, confuso, pensará que a prática evangelística é secundária. Na opinião de Greenway, esta é uma das principais fontes de debilidade e falta de crescimento da igreja contemporânea.[3] Desta forma, não basta apenas ensinar e pregar sobre o assunto; o pastor deve também ser modelo na evangelização.

Considerando que o pastor deve atender por si mesmo e pelo rebanho que lhe foi confiado (At 20.28), a melhor maneira de zelar da dimensão evangelística do ministério é desenvolver um duplo compromisso nesta área: o envolvimento pessoal e o cooperativo. Com respeito ao primeiro, o pastor pode começar orando diariamente pela conversão de algum descrente que ele conheça. É surpreendente notar como aqueles que pregam sobre a oração facilmente negligenciam os seus benefícios! Todavia, aqueles que crêem que conversão é obra do Espírito Santo não deveriam se aventurar a pregar o evangelho sem suplicar pela intervenção do mesmo. Em segundo lugar, o pastor determinado em evangelizar deve vivenciar o evangelho em cada um de seus relacionamentos, inclusive aqueles com pessoas não crentes. Embora isto seja óbvio, o fato é que muitos, inclusive o pastor, se esquecem desta necessidade básica. O problema é que a falta de um comportamento cristão no trânsito, nos negócios e relacionamentos em geral serve apenas para envergonhar o evangelho e fortalecer a rebeldia dos incrédulos. Também, o pastor podeestabelecer o alvo de falar de Cristo para, no mínimo, uma pessoa a cada semana. A importância de um alvo como este é o esforço consciente de se lembrar sempre da responsabilidade pessoal em testemunhar Cristo àqueles ao redor. Por último, o pastor deve esforçar-se por manter um círculo de amizades com pessoas não crentes. Alguns ministros parecem limitar suas amizades intra muros eclesiae. Todavia, Jesus deixou claro o exemplo de que para se anunciar a proximidade do reino há também que ser amigo de publicanos e pecadores.

O comprometimento do pastor com a evangelização também deve ser evidenciado cooperativamente. Neste sentido ele não ficará satisfeito em observar á desatenção dos membros de sua igreja quanto ao evangelismo pessoal. Ao contrário, um dos principais alvos do seu ministério será a mobilização da força leiga de sua congregação quanto à prática evangelística. Uma das primeiras coisas que ele pode fazer a este respeito será começar a pregar evangelisticamente. Alguns pastores pensam que não se deve pregar mensagens evangelísticas se o auditório consiste apenas de pessoas crentes. Entretanto, é bem possível que se o ministro pregar evangelisticamente os membros da igreja se sentirão mais encorajados a convidar e trazer descrentes para ouvir a pregação. Logo, é sempre recomendável pregar evangelisticamente, mesmo quando os descrentes ainda não se encontram no auditório! Outra atitude do envolvimento cooperativo do ministro com a evangelização é o ato de desafiar os membros de sua igreja a pregar o evangelho. Muitos cristãos se sentiriam mais motivados a pregar as boas novas se fossem persuadidos biblicamente quanto à necessidade e urgência de fazê-lo. O rebanho precisa ser continuamente lembrado de que o evangelismo não é algo opcional, mas um mandato divino à igreja. Em terceiro lugar, o pastor pode equipar a igreja para a tarefa evangelística. Os crentes não precisam apenas ser exortados a evangelizar, mas também carecem de instrução quanto ao que deve ser feito. O pastor que faz do evangelismo uma prioridade em seu ministério não tardará em ensinar sua igreja a evangelizar, seguindo sempre os princípios e os exemplos bíblicos. Em último lugar, o pastor pode apresentar à igreja um plano para a evangelização da vizinhança. Neste sentido há que se lembrar que se o evangelismo não for uma prioridade da igreja seus membros logo se ocuparão com outras atividades, tais como recreação, assistência social, reuniões internas ou qualquer outra coisa. O líder neste caso precisa estar atento para a necessidade de alistar seu rebanho na obra da evangelização.

Certamente os pastores que não estão acostumados a evangelizar pessoalmente encontrarão algumas dificuldades no início. O importante, porém, é haver conscientização de que esta tarefa é parte essencial do ministério pastoral e, portanto, não deve ser negligenciada!

Valdeci da Silva Santos


[1] GREENWAY, Roger S (org.). The pastor-evangelist. New Jersey: P&R Publishing Co., 1987, p. 1.

[2] REESE, Martha G. Unbinding the Gospel. Atlanta: Chalice Press, 2007, p. 9 e 22.

[3] GREENWAY, The pastor-evangelist, p. 2.

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