Recebendo Críticas

 In Pastorais

Ninguém gosta de ser criticado, censurado, diminuído ou ter seus defeitos apontados. Porém, a crítica é inevitável e, portanto, devemos esperá-la, examiná-la e absorvê-la. As melhores censuras vêm daqueles que nos amam, pois o sábio diz: “Melhor é a repreensão franca do que o amor encoberto. Leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos de quem odeia são enganosos” (Pv 27.5-6). Há, contudo, a reprimenda truculenta, que acaba ferindo mais do que edificando. Sobre essa, o salmista Davi ensina que os críticos “afiam a língua como espada e apontam, quais flechas, palavras amargas” (Sl 64.3). Ou seja, a pessoa criticada se sente, na maioria das vezes, como se estivesse sendo esfaqueada. Portanto, a primeira coisa a fazer ao receber uma crítica é perguntar pela intenção do seu autor.

Mas isso seria apenas a primeira atitude a ser tomada. Que mais poderia ser feito ao se receber uma crítica? Qual deveria ser o procedimento correto nesse momento? Por mais que a crítica seja dura e soe injusta como ela deveria ser processada? Deveria eu ficar amargo quando sou criticado? Deveria eu receber a crítica com cinismo e simplesmente me afastar da pessoa que me criticou? Deveria eu ficar calado e sair cabisbaixo? Deveria a crítica ser recebida como um instrumento de Deus ou como ofensa pessoal? Enfim, o que fazer nesses momentos?

Embora não exista nenhuma “receita de bolo” sobre esse assunto, há alguns princípios que nos ajudam a manter a santidade ao receber críticas ao invés de revelarmos, ainda que temporariamente, nossa insanidade. Nesse sentido, é importante refletir sobre os fundamentos abaixo.

Ao receber uma crítica, tente responder, ainda que mentalmente, da seguinte maneira:

  1. Se você me conhecesse tanto quanto eu, você seria mais duro comigo

Geralmente, a pessoa criticada reage com auto justificação (“eu não faço isso!”), autoproteção (“você é quem está errado!”) ou auto exaltação (“realmente você não sabe nada sobre mim!”). Porém, se formos realmente honestos em relação as nossas falhas e pecaminosidades, teremos que admitir que aquilo pelo que somos censurados é apenas uma pequena fatia do bolo. No cômputo geral, somos bem piores do que nosso crítico imagina (e provamos isso quando, em nossa mente, julgamos nosso crítico)!

  1. Minha tendência é manter a melhor opinião sobre mim mesmo

O fato é que a Queda, relatada em Gênesis 3, fez mais do que expulsar o ser humano do Éden. O pecado distorceu as nossas perspectivas sobre Deus, sobre a vida e sobre nós mesmos. Por isso, a distorção do pecado faz com que avaliemos a nós mesmos como ótimos, excelentes ou apenas vítimas da avaliação de outros. Isso faz com que nossa avaliação a nosso respeito seja sempre positiva e a crítica dos outros sempre negativa e equivocada.

  1. Quero crescer à semelhança de Cristo

Portanto, se Cristo foi criticado e até avaliado negativamente, não seria nenhuma surpresa que algo semelhante acontecesse comigo. Dessa maneira, quando eu me sinto ofendido e respondo com ressentimento ao ser avaliado negativamente, acabo deixando de me identificar com Cristo em seu sofrimento. Além do mais, Romanos 8.28-29 ensina que Deus usa todas as circunstâncias para me refinar e conformar à imagem de Cristo. Portanto, a crítica, ainda que injusta, pode ser usada por Deus para apontar algo que necessita ser mudado em minha vida à fim de que eu me pareça mais com meu Redentor.

  1. A crítica é, antes de mais nada, uma permissão de Deus para me corrigir

O coração humano é enganoso e desesperadamente corrupto (Jr 17.9). Isso significa que, geralmente, eu me encontro cego para meus próprios erros. Dessa maneira, quando alguém me critica, pode estar oferecendo uma ajuda preciosa para que eu note algo em minha vida que necessite ser mudado. Nesse sentido, eu deveria receber a crítica como um instrumento de Deus que evita que eu permaneça em minha ignorância e erro. Em outras palavras, minha sanidade nessa vida depende da correção divina que vem por meio da crítica de outros!

  1. Qual é o padrão pelo qual estou sendo criticado?

Algumas vezes, a razão pela qual eu me sinto tão ofendido é porque não estou sendo criticado por aquilo que a Bíblia ensina que eu deveria ser avaliado, mas simplesmente porque não fui aprovado pelo critério pessoal de algum amigo ou irmão. Nesse sentido, o código usado para me avaliar não foi as Escrituras, e sim a opinião pessoal de alguém, a tradição de outros ou a expectativa de muitos. No entanto, qualquer padrão que não seja o alvo de Deus para a vida de seus filhos, não deveria nem mesmo ser considerado e a crítica perderia o seu valor. Nenhum cristão deveria se fazer escravo da opinião de outros e nem mesmo de sua própria opinião sobre si. Ambas podem estar erradas! Essa foi a razão pela qual o apóstolo Paulo disse: “A mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós ou por tribunal humano; nem eu tampouco julgo a mim mesmo. . . pois quem me julga é o Senhor” (1Co 4.3-4).

  1. O que a crítica revela sobre a pessoa que está me censurando?

Se a boca fala do que está cheio o coração (cf. Mt 15.18 e Lc 6.45), toda censura acaba revelando algo também sobre o crítico. Algumas vezes, ela revela que essa pessoa mesma nunca compreendeu a graça, o evangelho ou a misericórdia de Deus. Nessas ocasiões, ela mostrará que meu crítico é um legalista, alguém que ainda acredita na salvação é pelas obras. Todavia, pode ser que a crítica revele que aquele que me corrige é um irmão/irmã, pai/mãe, filho(a) ou amigo(a) amoroso e verdadeiramente deseja meu crescimento espiritual. Por isso, não posso desprezar a crítica sem considerar o seu autor.

Concluindo, ainda que o remédio seja amargo, ele não deve ser desprezado. Toda crítica pode nos ensinar algo e por isso não deveria ser “descartada” precipitadamente. Dessa forma,  que o Senhor nos dê graça para receber e responder corretamente às críticas e também graça àqueles que a fazem para que sempre nos digam a “verdade em amor” (Ef 4.15).

Rev. Valdeci da Silva Santos

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