PARA QUE NEM TUDO SE ACABE EM CINZAS

 In Pastorais

Carnaval é a maior festa popular brasileira, referida muitas vezes pelos brasileiros como o “maior espetáculo da terra”. Os números avaliando esse evento são, geralmente, altos. Por exemplo, o Carnaval de 2017 movimentou 151 milhões de reais na cidade de São Paulo e em Olinda, PE, foram gerados mais de 60 mil empregos relacionados a esse evento. Porém, também foram contabilizados 5.147 atendimentos à saúde resultantes dessa festa em Salvador, BA, 743 atendimentos no SAMU de Recife por uso abusivo de bebidas alcoólicas e inúmeras mortes, em todo o país, por acidentes rodoviários causados por embriaguez no volante. [1] Outras análises poderiam ser feitas sobre a estatística da violência, o consumo de drogas e as distribuições de preservativos nessa ocasião,mas a conclusão final será o óbvio: o carnaval moderno movimenta grandes cifras financeiras e representa o ápice da diversão para muitas pessoas na sociedade brasileira.

Há muita divergência quanto a origem do Carnaval. Geralmente,o começo dessa festa é associado ao cristianismo ocidental, pois ela ocorre antes do período litúrgico da Quaresma, no catolicismo romano. Quaresma diz respeito às seis semanas imediatamente anteriores a Páscoa, nas quais os cristãos católicos romanos são exortados às práticas piedosas e penitenciais, como o jejum e a abstenção de alimentos gordurosos. Nesse sentido, o Carnaval seria uma preparação para a Quaresma.

A palavra Carnaval vem, provavelmente, da expressão italiana carne levare, ou seja, “remover a carne”, já que as comidas gordurosas seriam abolidas no período da Quaresma. O ápice da festa é a terça-feira gorda, quando as pessoas limpavam suas despensas de alimentos como manteiga, ovos, queijos e carnes, para fazer a grande refeição que antecederia a quarta-feira de cinzas. [2] Aquela refeição da terça de Carnaval marcava, então, a grande celebração, na qual as pessoas comiam e bebiam sem se preocupar com o dia vindouro.

No entanto, tudo acabaria na quarta-feira de cinzas, que é o primeiro dia da Quaresma. Nesse dia, os católicos romanos recebem cinzas como símbolo do dever da conversão e mudança de vida, especialmente gerados pela reflexão sobre a fragilidade da vida humana. Os cristãos, geralmente, conectam esse dia com os rituais de arrependimento na Bíblia, nos quais os penitentes se vestiam com “pano de saco e cinza” (cf. Daniel 9.3 e Jonas 3.6).Porém, para muitos, a quarta-feira de cinzas é a grande vilã que põe fim à alegria do Carnaval. Parece, no entanto, irônico (senão providencial) que a festa que muitos não gostariam que acabasse, sempre termine em cinzas.

A referência às cinzas no dia que põe um fim às celebrações do carnaval é, no mínimo, intrigante. Se refletirmos sobre o simbolismo das cinzas descobriremos algumasverdadese aplicações à vida humana.

Cinzas indicam a ausência do colorido

No vocabulário popular, pessoas dizem que as “coisas estão cinza” quando a situação está“sem brilho”, “fosca” e “embaçada”. Neste caso, o cinza indica a ausência do colorido, da alegria e do entusiasmo na vida das pessoas.Geralmente, isso ocorre quando o ânimo se foi e o desespero se instalou. Viver sem conseguir ver qualquer colorido na vida, sem ter esperança, é uma das coisas mais frustrantes e deprimentes para o ser humano.Dessa maneira, os momentos cinzas não são positivos nem benéficos para as pessoas, pois todos buscam um “colorido” nessa vida.

Cinzas comunicam a ideia da queima de algo substancial

As cinzas são o produto da combustão da maioria dos materiais inflamáveis.Em química analítica, a cinza é o nome dado a todos os resíduos ou detritos que restaram “após o fogo acabar”.

É importante estabelecer uma analogia entre essa natureza da cinza e o que ocorre na vida humana, pois, em certo sentido, todo esforço humano, toda empolgação e todo fogo, todo investimento no mundo sem Deus, ao final, sempre terminará em cinzas. Há muitas pessoas que procuram fazer provisões somente para essa vida temporária, mas geralmente acabam percebendo que aquilo que deveria ser substancial foi queimado e só sobraram cinzas.

Cinzas apontam para o conceito de juízo final

Outra analogia possível em relação às cinzas é o que a Bíblia ensina sobre o juízo de Deus sobre aqueles que se preocuparam mais com o gozo e alegrias passageiras dessa vida do que com o mundo vindouro. De fato, o escritor da carta aos Hebreus afirma que os que desprezam Cristo e o seu retorno são passíveis de uma horrível expectativa do juízo de Deus que se consumará no último dia (cf. Hebreus 10.27). Com isso, o anúncio bíblico do Dia do Juízo diz respeito àquele momento no qual todas as ilusões serão desfeitas pela realidade do fogo, especialmente a ilusão de se pensar que é possível viver e ser feliz sem Deus!

Outra alternativa

Ninguém precisa viver como se fosse obrigado a orientar sua vida pela liturgia da Quaresma, na qual alguns dias são dedicados à libertinagem e orgia e o restante é marcado pelas cinzas. O Evangelho de Cristo ensina que há uma alegria indizível, impossível de ser explicada, para aqueles que depositam sua total confiança em Cristo e assumem o compromisso de viverem em contínua comunhão com Ele. Para esses, há, inclusive uma promessa de que Deus coloca sobre eles“uma coroa ao invés de cinzas e óleo de alegria ao invés de pranto” (Isaías 61.3). Assim, nesse Carnaval, volte-se para Cristo!

Rev. Valdeci da Silva Santos

[1]BRETAS, Valéria. Os números que mostram o tamanho do Carnaval 2017. Disponível em: https://exame.abril.com.br. Acesso em: 07.02.2018.

[2]AMÉRICO, Flávio. Todo carnaval tem seu fim. Disponível em: https://igrejapresbiterianadenatal.blogspot.com.br. Acesso em: 07.02.2018.

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